No RN, paciente estão preocupados por falta de distribuição de remédio para doença rara (Foto: Poliana Pinheiro)
Com a última dose do medicamento do qual sua
mãe tanto precisa em mãos, a arquiteta Poliana Pinheiro, de 35 anos, está muito
preocupada. Desde 2013, ela sempre recebia antes do prazo o remédio Soliris,
entregue pelo Ministério da Saúde, por força de decisões judiciais. Porém, a
distribuição começou a apresentar problemas no ano passado. O medicamento é usado no tratamento de uma
doença rara: a Hemoglobinúria Paroxística Noturna (HPN), que destrói os
glóbulos vermelhos do sangue, gerando uma grave anemia. Cada dose custa cerca
de R$ 20 mil, o que torna o tratamento um procedimento milionário.
Segundo o Ministério da Saúde, o problema foi
causado por um impasse jurídico na compra de medicamentos para doenças raras.
Na fase final, o processo para compra foi paralisado porque a distribuidora
vencedora teve a licença de importação negada pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa). O caso foi parar na Justiça. Sem o remédio, a aposentada Solange Pinheiro,
de 64 anos, precisou ser internada duas vezes no final do ano passado, relata a
filha. "As pessoas dependem dele pra viver, não podem ficar sem. Tem
pessoas morrendo. Sabemos de pelo menos 15 que faleceram, provavelmente por não
ter o remédio", diz Poliana. Para ela, o problema é anterior à licitação.
Cada dose do Soliris custa cerca de R$ 20 mil.
No caso de Solange, por exemplo, são necessárias três ampolas a cada duas
semanas, o que representaria um custo de R$ 120 mil mensais, ou R$ 1,4 milhão
por ano. O mesmo é quanto Alda Maria Krelling de Souza, de 66 anos, teria que
gastar para manter o tratamento sem o atendimento federal. "Ainda tenho remédio até o dia 22, mas a
gente fica preocupada", diz. "Esse tipo de medicamento não pode
falhar. Já não estou tão nova, o organismo vai enfraquecendo e não sei se
consigo resistir", considera ela. Ao ligar para o ministério, ela conta
que foi informada que havia uma "intenção de compra" em andamento. Alda revela que já chegou a passar três meses
sem medicamento. Para cada paciente, os sintomas são diferentes, mas no seu
caso, foram dias de fraqueza no corpo, tonturas e mal estar.
O Ministério da Saúde afirma que busca uma
solução para impasse na compra dos medicamentos Soliris, Fabrazyme, Myosyme e
Aldurazyme - todos para tratamento de doenças raras. Uma liminar considerou que
a medida da Anvisa, que não concedeu licença às empresas ganhadoras contraria a
lei de licitações. Não foram dados prazos para a distribuição do medicamento. Uma resolução da diretoria da agência
reguladora proíbe distribuidoras que não tenham aval do laboratório produtor de
comercializar seus medicamentos Brasil. O laboratório, por sua vez, apenas
autoriza a entrega por um único distribuidor indicado por ele. Para o MS,
trata-se de monopólio, que contraria a lei de licitações.
No caso da aquisição do medicamento Soliris, a
empresa Tuttopharma apresentou valor inferiores ao da Multicare, detentora do
registro no Brasil, totalizando uma diferença de R$ 4,6 milhões para
atendimento de 296 pacientes em todo o país. A distribuidora, agora, entrou na
Justiça com outras empresas para garantir o direito de entregar os medicamentos
ao Ministério da Saúde. No ano passado, o Ministério da Saúde realizou
auditoria no processo de compra do medicamento Eculizumab (soliris). A ação
apontou que das 414 pessoas que possuem decisões judiciais para receber o
medicamento em 2017, 28 não foram localizadas; 5 não residem no endereço
informado; 6 recusaram a prestar informações e 13 já faleceram.
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