
O cenário de incertezas políticas e econômicas,
agravado pela crise com os caminhoneiros,
levou o dólar a
fechar nesta quinta-feira, 7, rodando a barreira dos 4 reais, no maior patamar
desde 1º de março de 2016. Com valorização de 2,28%, a moeda americana encerrou
o pregão cotada a 3,9258 reais. “Parece que está ficando claro que há uma
especulação no mercado em relação à moeda e o Banco Central está
agindo usando apenas um instrumento”, diz o economista Sidnei Nehme, diretor
executivo da NGO Corretora de Câmbio. Para ele, a autarquia monetária deveria fazer
intervenções mais fortes, como os leilões de linha – quando o BC vende dólar à
vista, com o compromisso de recompra.
A situação cambial tem se deteriorado com a
proximidade das eleições de outubro e as incertezas quanto ao quadro eleitoral.
Para completar, a greve dos caminhoneiros trouxe à tona problemas que andavam
meio esquecidos pelo mercado, como a questão fiscal, o baixo crescimento da
economia e a alta taxa de desemprego. “Há todo um quadro deteriorado e que agora foi
potencializado. Para mim, este ano já está perdido. Agora é tentar dar um
breque nesta situação para chegarmos ao próximo ano e ao próximo governo”,
avalia Nehme. “A valorização do dólar nesta quinta é reflexo do
que vem ocorrendo nos últimos dias. O mercado começa a testar o limite de 3,90
reais para ver se esse seria o nível que o BC estaria disposto para defender a
moeda”, conisdera o gestor de fundos da Horus GGR, Thiago Figueiredo. “O Banco
Central até colocou um volume mais alto de swap no mercado, mas não foi
suficiente para segurar ímpeto comprador de dólar”, complementa Figueiredo.
O BC reforçou sua atuação no mercado de câmbio, por
meio de swaps cambiais, equivalentes à venda de dólares no
mercado futuro. Leilões extras e a rolagem cambial não foram suficientes para
segurar o mercado, com o dólar mantendo trajetória de alta, levando, inclusive,
o Tesouro
Direto a suspender negociaçõesdos títulos públicos nesta quinta-feira e com
previsão de retorno só na manhã desta sexta-feira. “Estamos vendo um pequeno ataque especulativo ao
Brasil via câmbio, mas acredito que é perfeitamente contornável”, afirmou o
sócio-gestor da gestora Leme Investimentos, Paulo Petrassi, acrescentando que o
BC tem condições de atuar. O ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, chegou a
dizer que existe uma tensão maior no mercado de câmbio no Brasil por causa das
eleições deste ano. “Como sabemos, existe uma tendência global de valorização
do dólar. E isso afeta a economia brasileira, como afeta outras economias, com
maior intensidade as emergentes. Evidentemente tem as especificidades do caso
brasileiro. Existe uma tensão maior dada pela transição política, em cenário
das eleições. Tudo isso agrega volatilidade e incerteza aos mercados”, disse. No cenário externo, a possibilidade de aumento na
taxa de juros americana torna o mercado de lá mais atraente para os
investidores, que tiram seus recursos de economias menos sólidas e aplicam nos
Estados Unidos.
Bolsa
O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores
brasileira, fechou a quinta-feira com queda de 2,98%, aos 73.851
pontos. Após desabar quase 11 por cento em maio, o Ibovespa já contabiliza
um declínio ao redor de 3,8% nestes primeiros dias de junho. De acordo com o estrategista Carlos Sequeira, do BTG
Pactual, há uma piora na situação de alguns mercados emergentes, bem como
preocupações com aumento de inflação e juros nos Estados Unidos, o que tem
minado o sentimento dos investidores, enquanto a situação no Brasil é
amplificada principalmente pela questão político-eleitoral. “A crise do
combustível na esteira da greve dos caminhoneiros só aumentou a preocupação com
cenário político-eleitoral”, afirmou.
Com Reuters/VEJA
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