
Fantasmas voltam a assombrar à Assembleia Legislativa/jornaldefato
A
chefe de Gabinete da Presidência da Assembleia Legislativa do Rio Grande do
Norte, Ana Augusta Simas Aranha Teixeira de Carvalho, foi presa nesta
segunda-feira, 17, durante a Operação Canastra Real, detonada pelo Ministério
Público Estadual (MPRN) para desmantelar esquema de desvio de recursos públicos
através de funcionários fantasmas. Outras cinco pessoas também foram presas em
Natal e em três municípios do interior.
Segundo
o MPRN, o esquema fraudulento pode ter desviado mais de R$ 2,44 milhões. Não há
informação, até aqui, de envolvimento de políticos graúdos da Assembleia
Legislativa, mas a investigação alcança a antessala do presidente Ezequiel
Ferreira (PSDB), de quem a chefe de gabinete Ana Augusta recebe orientação
direta. Segundo
as investigações, o esquema fraudulento foi iniciado em 2015 e tem como
principal integrante Ana Augusta. Para o MPRN, ela ocupa posição de controle ao
indicar pessoas para cargos na Casa. Para isso, a chefe de Gabinete forneceu o
próprio endereço residencial para constar nos assentos funcionais e nos
cadastros bancários dos servidores fantasmas por ela indicados.
O
esquema é idêntico ao escândalo dos funcionários fantasmas descortinado pela
Operação Dama de Espadas, em 2015, que levou para a prisão a
ex-procuradora-geral da Assembleia Legislativa Rita das Mercês (veja matéria
nesta página). Consiste no uso de pessoas nomeadas para cargos comissionados,
como forma de desviar recursos em forma de salários. A
investigação verificou que todos os indicados por Ana Augusta possuem
movimentações financeiras atípicas, recebendo mensalmente a importância líquida
aproximada de R$ 13 mil. Logo após o depósito dos valores nas contas bancárias,
as quantias eram integralmente sacadas. Essa movimentação financeira das contas
bancárias, todas com saques padronizados, de valores idênticos, revela que os
titulares não possuíam o controle de suas próprias contas.
Para
o MPRN, as contas correntes desses ex-assessores técnicos foram abertas somente
para desvio de dinheiro público. Embora fossem servidores com alta renda,
optaram por não contratar cartões de crédito. Mesmo sendo bem remunerados, a
investigação do Grupo de Atuação Especial ao Combate ao Crime Organizado
(GAECO), órgão do MPRN, mostra a ausência de aquisição de patrimônio no período
em que estiveram nomeados para o cargo na Assembleia. A movimentação financeira
deles não espelha a renda percebida.
Já
em relação a Ana Augusta Simas, ao contrário dos demais investigados, a movimentação
financeira é superior à renda declarada, incompatível com a qualidade de
servidora pública e dissociada da sua declaração de Imposto de Renda. Ela
declarou à Receita Federal, no IR do ano calendário 2015, somente rendimentos
advindos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Norte, enquanto
que a declaração de informações sobre movimentação financeira revelou que a
entrada de recursos na conta dela foi em valores que equivalem a mais que o
dobro da remuneração dela.
FLAGRANTE
Durante
o cumprimento dos mandados de prisão e de busca e apreensão contra Ana Augusta,
o marido dela, Fernando Luiz Teixeira de Carvalho, foi preso em flagrante por
posse ilegal de arma de fogo. Fernando Teixeira, que é o prefeito de Espírito
Santo, foi preso na fazenda em que mora com uma espingarda de calibre 12 e um
revólver de calibre 38 e munição. Também
foi preso, igualmente por posse ilegal de arma de fogo, Ygor Fernando da Costa
Dias, residente em Espírito Santo e marido de Fabiana Carla Bernardina da Silva.
Ele estava com um revólver de calibre 38 e munição. Além
de Ana Augusta, foram presos temporariamente por cinco dias: Paulo Henrique
Fonseca de Moura, Ivaniecia Varela Lopes, Jorge Roberto da Silva, Jalmir de
Souza Silva e Fabiana Carla Bernardina da Silva, todos ex-assessores técnicos
da Presidência da Assembleia Legislativa.
Essas cinco pessoas, que foram
indicadas por Ana Augusta, tinham altos vencimentos na Casa, embora não
possuíssem nível superior. A
operação Canastra Real contou com o apoio da Polícia Militar. Participaram da
ação 28 promotores de justiça, 26 servidores do MPRN e 70 policiais militares.
Além dos seis mandados de prisão, foram cumpridos outros 23, de busca e
apreensão nas cidades de Natal, Espírito Santo, Ipanguaçu e Pedro Velho. O
Ministério Público Estadual (MPRN) afirma que os crimes investigados na
operação Canastra Real se assemelham aos apurados na operação Dama de Espadas,
deflagrada em 2016. Dessa forma, fica evidenciado que o esquema de funcionários
fantasmas na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte não se intimidou com
a ação do Ministério Público.
Na
Dama de Espadas, havia a inserção de servidores fantasmas na folha de pagamento
da Casa Legislativa, seguida da expedição de “cheques-salários” em nome dos
servidores, sendo sacados por terceiros não beneficiários, com irregularidades
na cadeia do endosso ou com referências a procurações inexistentes ou não
averbadas na ficha cadastral bancária do cliente. No
caso atual dos ex-servidores residentes em Espírito Santo, pelo menos em alguns
meses, os saques – sempre feitos na agência bancária na ALRN – eram realizados
por eles próprios. Um
dos principais personagens da Dama de Espadas é o atual do governador Robinson
Faria (PSD). Ele foi apontado por Rita das Mercês, em delação premiada, de ter
recebido mesada de R$ 100 mil/mês entre os anos de 2006 e 2010, período em que
era presidente da Assembleia Legislativa. A
delação de Rita das Mercês e de um filho provocou outra operação, a Anteros,
detonada em 2017, para apurar suposta prática de Robinson para prejudicar as
investigações. Imagens gravadas pela MPRN mostraram o ex-assessor do governador
Adelson, conhecido como “Zé Bonitinho”, entregando pacotes de dinheiro a Rita
das Mercês, que seria para “comprar” o silêncio. Adelson chegou a ser preso,
mas negou o crime. O
governador Robinson também afirma que é inocente. Essa investigação está no
Superior Tribunal de Justiça (STJ) e tem como relator o ministro Raul Araújo
Filho.
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