
Com dificuldades para negociar
um acordo com os demais partidos de oposição, o Partido dos Trabalhadores (PT)
precisa resolver, também, suas próprias diferenças internas. A disputa
pela presidência do partido já começou. A atual presidente, Gleisi
Hoffmann, deve tentar a reeleição. A deputada federal conta com o apoio do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba, e de grupos
organizados como o Movimento dos Sem Terra (MST), mas enfrenta resistências
dentro de sua própria corrente, a Construindo um Novo Brasil (CNB). Um
grupo de governadores ligados à corrente defende um nome do Nordeste para
presidir o PT. Os nomes colocados na mesa são os do senador Humberto Costa (PE)
e do deputado José Guimarães (CE).


No ano passado, a ala da CNB
contrária a Gleisi tentou emplacar o candidato derrotado à Presidência,
Fernando Haddad, como sucessor da deputada, mas Lula vetou a
articulação. As diversas alas do PT não conseguem chegar a um acordo nem
mesmo sobre o calendário para escolha das novas direções. A única certeza é que
um plebiscito interno será realizado para decidir se o partido mantém o modelo
de eleições diretas ou se volta a adotar o sistema de escolha de delegados. Além
disso, o PT tenta apaziguar a relação entre Gleisi e Haddad, hoje a maior
figura do partido depois de Lula. A relação, que nunca foi boa, azedou de vez
depois da tentativa frustrada de emplacar Haddad como presidente do PT. Na
última reunião da executiva nacional do partido, no dia 9 de fevereiro, os dois
bateram boca por causa da viagem de Gleisi a Caracas para a posse de Nicolás
Maduro. No dia seguinte, Gleisi anunciou que Haddad seria o coordenador dos
Núcleos de Acompanhamento de Políticas Públicas do PT, mas o ex-prefeito
recusou a tarefa.
Fragmento da oposição
Líderes de partidos de oposição a Jair Bolsonaro estimam ter entre 160 e 180 cadeiras na Câmara. O número seria suficiente para, no limite máximo, barrar a aprovação de emendas à Constituição e inviabilizar reformas. No mínimo, já poderia complicar a vida do governo — que ainda enfrenta dificuldades para montar uma base sólida de apoio na Casa. Isso seria verdade se a oposição estivesse unida, algo que não ocorreu até agora. Disputas pela hegemonia no campo da esquerda — que nos últimos anos esteve sempre nas mãos do PT —, por espaços e postos no Parlamento e diferenças regionais ou de concepção estratégica estão por trás da falta de coesão das esquerdas. Outra forte razão é a perspectiva de candidaturas opostas nas eleições de 2022.
Líderes de partidos de oposição a Jair Bolsonaro estimam ter entre 160 e 180 cadeiras na Câmara. O número seria suficiente para, no limite máximo, barrar a aprovação de emendas à Constituição e inviabilizar reformas. No mínimo, já poderia complicar a vida do governo — que ainda enfrenta dificuldades para montar uma base sólida de apoio na Casa. Isso seria verdade se a oposição estivesse unida, algo que não ocorreu até agora. Disputas pela hegemonia no campo da esquerda — que nos últimos anos esteve sempre nas mãos do PT —, por espaços e postos no Parlamento e diferenças regionais ou de concepção estratégica estão por trás da falta de coesão das esquerdas. Outra forte razão é a perspectiva de candidaturas opostas nas eleições de 2022.
A divisão repete o segundo
turno da campanha presidencial do ano passado, quando Guilherme Boulos (PSOL) e
Marina Silva (Rede) apoiaram Fernando Haddad (PT), enquanto Ciro Gomes (PDT)
resistiu a compor uma frente para enfrentar Bolsonaro. Seu partido acabou
oferecendo “apoio crítico” ao candidato petista. A distância se aprofundou
durante a disputa pelos cargos da mesa diretora da Câmara. Neste caso, os
parlamentares se dividiram quanto ao apoio à reeleição de Rodrigo Maia
(DEM-RJ). “Existe uma diferença de tática sobre como enfrentar Bolsonaro,
isso é inegável. No caso de Ciro e do PCdoB, isso se expressou no apoio ao
Maia”, disse o presidente do PSOL, Juliano Medeiros. Ele vai insistir na
proposta de um fórum de presidentes dos partidos, apresentada no início de 2018
e logo abandonada por falta de adesões.
Divisões
Os partidos se dividem em dois grupos. De um lado, o bloco liderado por PCdoB e PDT, que afirmam defender uma oposição “responsável” ao governo Bolsonaro, de olho nos votos que essa estratégia pode trazer entre eleitores de centro-esquerda. Eles integram um bloco na Câmara com outros seis partidos que totaliza 83 votos, mas admitem que alguns deles devem compor a base do governo.
Os partidos se dividem em dois grupos. De um lado, o bloco liderado por PCdoB e PDT, que afirmam defender uma oposição “responsável” ao governo Bolsonaro, de olho nos votos que essa estratégia pode trazer entre eleitores de centro-esquerda. Eles integram um bloco na Câmara com outros seis partidos que totaliza 83 votos, mas admitem que alguns deles devem compor a base do governo.
De outro lado, estão PT, PSB,
PSOL e Rede, com 97 cadeiras, que defendem uma oposição sistemática a
Bolsonaro. Eles dizem contar ainda com parlamentares desgarrados de siglas como
MDB, PSDB, Solidariedade, PPS, PV, PROS, PP e Podemos, que se dizem
insatisfeitos com o governo federal. A divisão afeta até as mobilizações
de rua. Diante da dificuldade para ampliar as adesões para além do campo da
esquerda, as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, que reúnem partidos e
movimentos de esquerda, desistiram da ideia de criar uma aliança em defesa de
bandeiras da democracia que, na avaliação dos dois grupos, estariam sob ameaça
com o novo governo. “Não há disposição política para uma frente
permanente”, disse Raimundo Bonfim, da Frente Brasil Popular. Bonfim
confirma que os motivos para o distanciamento são a opção de Ciro e do PDT por
buscarem setores do eleitorado de centro, o incômodo causado pelo hegemonismo
do PT e o afastamento do PCdoB em relação ao PT.
As frentes também não contam com a participação de entidades ligadas ao PCdoB
na jornada de manifestações contra a reforma da Previdência, programada para
este mês. A União Nacional dos Estudantes (UNE), historicamente ligada à sigla,
não compareceu a três reuniões da Frente Brasil Popular. Filiada ao PCdoB,
a presidente da UNE, Marianna Dias, disse que a entidade não participou das
reuniões por motivos “operacionais”: a organização da Bienal de Cultura da
entidade, que foi realizada em Salvador.
Lula
Segundo os políticos, a oposição deve se unir apenas em torno de temas pontuais, como a reforma da Previdência, mas não vai formar um bloco homogêneo. “Vamos nos rearticular em torno da Previdência. Já estamos mantendo conversas bilaterais”, disse o deputado José Guimarães (PT-CE). O presidente do PDT, Carlos Lupi, vai na mesma linha. “Temos divisões de comportamento, mas não de visão estratégica.”
Segundo os políticos, a oposição deve se unir apenas em torno de temas pontuais, como a reforma da Previdência, mas não vai formar um bloco homogêneo. “Vamos nos rearticular em torno da Previdência. Já estamos mantendo conversas bilaterais”, disse o deputado José Guimarães (PT-CE). O presidente do PDT, Carlos Lupi, vai na mesma linha. “Temos divisões de comportamento, mas não de visão estratégica.”
Já o PSB, com seus 32 deputados e três governadores, vai defender a unidade na
luta contra a reforma da Previdência, mas deve manter distância do “Lula
Livre”. “A proposta (da reforma) é tão ruim que não tem como ter divisão”,
disse o presidente da sigla, Carlos Siqueira. “Achamos lamentável o
ex-presidente estar preso, mas o ‘Lula Livre’ é uma campanha mais específica do
PT”, disse ele. A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), líder da minoria na
Câmara, minimiza o racha e elenca uma série de ações conjuntas marcadas para os
próximos meses, como uma greve geral em 1.º de maio. “O ‘Lula Livre’ é uma
bandeira central da democracia. O que o Ciro acha disso não importa. Estamos
todos juntos na oposição ao Bolsonaro.”
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