
A relatora da proposta de
emenda constitucional (PEC) que aumenta o percentual e torna permanente o Fundeb,
fundo que é a principal fonte de financiamento da educação básica, Professora
Dorinha Seabra Rezende (DEM-TO), criticou duramente o ministro Abraham
Weintraub por ter anunciado ontem que enviará novo texto à Câmara nos
próximos dias.
Segundo Dorinha, que fará a
leitura de seu parecer em fevereiro, a proposta de Weintraub deverá ser
ignorada pelo Congresso. “Não tem por que ele dar piti e dizer que vai mandar
outro texto. Não estamos brincando. São 48 milhões de estudantes envolvidos”,
disse a deputada ao Congresso em Foco. Para ela, o ministro tenta
atropelar as discussões no Parlamento.,

Para Professora Dorinha, nova proposta vai tumultuar processo de votação e ameaçar continuidade do Fundeb. Foto: Michel Jesus/Ag. Câmara
Ameaça para o fundo
O envio de uma nova PEC
forçará a Câmara a instalar nova comissão especial, derrubando todo o trabalho
feito até agora e atrasando a tramitação da proposta. Para que o fundo criado
em 2006 não seja extinto, o Congresso precisa aprovar ainda este ano, além da
mudança constitucional, a regulamentação dos novos critérios e a sua inclusão
nas propostas orçamentárias para 2021. “Qual é a lógica do
ministro a não ser a de causar tumulto, demonstrando desrespeito enorme com a
educação?”, questionou Dorinha. “O texto não é meu, não é dele. O ministro
passa, assim como eu. A educação não passa”, acrescentou. A deputada também critica a
falta de disposição para o diálogo do ministro nas discussões sobre o Fundeb.
“Ele participou de 20 minutos de uma audiência e foi embora, eu nunca me furtei
a conversar”, afirmou. “Nenhum parlamentar vai assumir a responsabilidade por
um fundo que vai desmontar a educação básica”, ressaltou.
Disputa por percentual
O principal ponto de
divergência entre Abraham Weintraub e Professora Dorinha está na definição dos
percentuais a serem destinados pelo governo federal para o Fundeb. A relatora propôs que a
contribuição da União para o fundo passe dos atuais 10% para 15% em 2021, com
acréscimos anuais de 2,5 pontos percentuais até chegar a 40% em 2031. Já o
ministro defende que o percentual dos recursos que a União repassa a estados e
municípios aumente dos atuais 10% para 15%, sem aumento para os anos seguintes.
A deputada estima que sua
proposta, com aumentos gradativos, terá impacto de até R$ 280 bilhões em 11
anos. “O governo não nos apresentou seus cálculos. Já chegaram a declarar em
jornais que poderia ser equivalente à economia esperada com a reforma da
Previdência [mais de R$ 800 bilhões em dez anos]. Não há conta possível que
chegue a esse valor”, afirmou. cDorinha ressalta que seu
relatório tem o apoio de governadores, secretários e representantes de
entidades ligadas à educação. “Os 40% não são uma escolha. Fizemos contas até
chegar a esse percentual. O Brasil investe US$ 3 mil por aluno na educação
básica enquanto a média dos países da OCDE é de US$ 9 mil. Em 49% das escolas não
há sequer tratamento de esgoto”, observou a deputada.

Weintraub: proposta do Congresso é inviável e contribuição da União não pode ser superior a 15. Foto: Marcelo Camargo/Ag. Brasil
Inviabilidade
Weintraub nega que esteja
desrespeitando a educação e o Congresso ao anunciar o envio de uma nova
proposta sobre o Fundeb, como acusa a relatora. Por meio de sua assessoria, o
ministro disse ao Congresso em Foco que considera o percentual
defendido pela deputado inviável. Ele alega que não é possível passar dos 15% e
que está aberto ao diálogo para construir um texto viável. Criado para vigorar até
2020, o Fundeb responde por mais de 60% do financiamento de todo ensino básico
do país. Os recursos provêm de impostos e transferências da União, estados e
municípios.
No ano passado a União destinou R$ 14,3 bilhões ao fundo, 10% o total
dos recursos. “Ao longo deste ano [2019],
tentamos colocar o novo Fundeb com propostas que acreditamos pertinentes.
Infelizmente, não andou na direção e na velocidade que queríamos. Diante desse
quadro, estamos encaminhando [ao Congresso] uma PEC [Proposta de Emenda
Constitucional]”, disse Weintraub nessa quinta (9) ao anunciar o envio de uma
nova proposta. Para o ministro, elevar o
repasse da União de 10% para 15% é o suficiente. “É um aumento expressivo. Além
de aumentar o volume de recursos, cobraremos resultados para receber esses
recursos. Estados e municípios terão que adotar critérios de desempenho e
mostrar resultados”, declarou o ministro.
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