Páginas

BUSCA NO BLOG

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

SERIDÓ/RN: EXPOSIÇÃO 'BORDADO DE CAICÓ' ACONTECE NO RIO DE JANEIRO ATÉ 06 DE MARÇO DE 2022

 
Exposição exibe mais de 200 peças bordadas, que incluem roupas, artigos de cama, mesa, banho e artigos de decoração

A exposição exibe mais de 200 peças bordadas, entre objetos de decoração, roupas, artigos de cama, mesa, banho, e enxoval para bebês. Aliado a isso, traz também elementos que contam um pouco dessa história no Seridó, como uma saia bordada em 1906, máquina de costura, ferros antigos de passar roupa, e baús. Há ainda um documentário sobre o bordado caicoense que será exibido durante a mostra, e vídeos de desfiles em que se usa a arte potiguar. O bordado de Caicó se caracteriza por ser produzido em máquinas de costura de pedal. Para manter seu trabalho dentro das especificações do bordado caicoense autêntico, as artesãs só podem utilizar 12 pontos: ponto cheio, richelieu, matiz, costurado, rococó à máquina, aberto ou bainha, turco, rústico, quebra-agulha/espinho, crivo, granito, e o roco-có, que ainda é feito a mão. É definido geograficamente por ser praticado em 12 cidades da região do Seridó do Rio Grande do Norte: Caicó, Timbaúba dos Batistas, São Fernando, Serra Negra do Norte, Acari, São João do Sabugi, Jardim do Seridó, Ipueira, Cruzeta, São José do Seridó, Jucurutu e Ouro Branco.

A exposição teve curadoria do designer Renato Imbroisi, que também se envolveu na criação de várias peças com as bordadeiras, através de oficinas reali-zadas pelo Sebrae. As peças aliam tradição com inovação, mostrando que uma arte antiga pode ser renovada sem perder sua essência. Os temas bordados de variadas formas nas peças da exposição, são bastante conhecidos por Iracema Nogueira Batista, artesã com 62 anos de experiência. Nascida em Timbaúba dos Batistas, ela cresceu e viu de perto tudo aquilo que aprendeu a bordar: cactos, chananas, o ‘melão caetano’, as penas do carcará, as folhas do juazeiro e da timbaúba, as rolinhas, o galo de campina, entre tantos símbolos do sertão e do RN. “A coleção foi baseada nas      duas estações do sertão: a seca, quando tudo fica árido, e a chuva, quando tudo fica verde, colorido, alegre. Essa exposição é uma bela vitrine que confirma a qualidade do nosso trabalho, do nosso saber fazer. A gente não sabia que tinha um potencial tão grande, mas já temos consciência disso”, afirma Iracema. Ela foi uma das responsáveis pelos bordados potiguares obterem, em 2020, o Signo de Indicação de Procedência, concedido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).

O selo de qualidade e procedência dos bordados faz parte de uma luta de 12 anos realizada pelo Comitê Regional das Associações e Cooperativas do Seridó (CRACAS). Aliadas à solicitação do grupo estiveram as muitas ações realizadas pelo Sebrae do RN para favorecer, divulgar e expandir a cultura dos bordados potiguares. Em 2021 foram realizadas ações de capacitação de artesãs em parceria com o Instituto Riachuelo, vinculado ao Grupo Guararapes. Iracema Nogueira conta que aprendeu a bordar “no olho”, movida pela força de vontade de aprender. Nascida na zona rural de Timbaúba dos Batistas, desde criança ela sonhava com algo que a levasse para uma vida melhor. Aprendeu os primeiros passados com uma vizinha que bordava a mão. E se “espe-cializou” vendo as bordadeiras trabalharem, quando voltava da escola. Quando terminou o primário, Iracema foi ser professora. Mas não só: comprou uma máquina de pedal e começou oficialmente a fazer as próprias peças. Ela usa essa máquina até hoje. Entre os bordados e as salas de aula, Iracema se engajou em várias graduações. Quando estava concluindo o curso de geografia, escreveu a monografia “As relações de produção do bordado artesanal de Caicó”, baseada em entrevistas de 180 artesãs.

A bordadeira de nível superior queria saber quem eram as outras artesãs, como elas viviam, comerciavam, estavam, e atuavam nessa cultura. O trabalho de Iracema acabou por se tornar uma referência local e nacional. Ela ressalta que já orientou academicamente pessoas de todo Brasil que fazem trabalhos sobre bordados. O objetivo agora é não deixar essa arte estacionar no tempo, em uma geração. Iracema afirma que estão sendo feitas qualificações e resgate de pontos antigos. E em janeiro de 2022 será realizado um curso de iniciação ao bordado, porque sim, há muitas filhas e netas de bordadeiras que desejam ir adiante. Há também a questão do reconhecimento: “Nós somos reconhecidos como os me-lhores bordados do Brasil, e os mais criativos. Na pandemia, fizemos máscaras de bordados. Vendemos para o Brasil e o exterior, e temos um certificado de qualidade. O bordado nunca vai acabar”, diz. A mostra teve uma exibição para convidados no dia (06), na qual compareceram políticos do RN, como a governadora Fátima Bezerra, Jean Paul Prates e José Agripino Maia. O diretor superintendente do Sebrae RN, José Ferreira de Melo Neto, declarou na ocasião ser um momento edificante para o Estado. “Temos cerca de três mil bordadeiras no RN. Gente que fortalece a cultura e resgata nossa história. E esses bordados não são só história do RN, mas do Brasil”, conclui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário