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domingo, 26 de junho de 2022

EM UM ANO, 115 MIL POTIGUARES ENTRAM NA FAIXA DA EXTREMA POBREZA

 
Ivanice Conceição tem sete filhos e não consegue oferecer alimentação adequada para eles. Segundo ela, não sabe se almoça, não sabe se janta

Em um ano, entre abril de 2021 e abril de 2022, 115,9 mil pessoas, distribuídas em 80 mil famílias, ingressaram na faixa da extrema pobreza no Rio Grande do Norte, segundo aponta um levantamento do Cadastro Único, compilado pela Secretaria de Estado do Trabalho, da Habitação e da Assistência Social (Sethas). O número representa um crescimento de 21,6% da miséria nas famílias do RN. Para ter uma ideia da dimensão do indicador, se o grupo de novos pobres extremos formasse um município, ele seria o 4º mais populoso do Estado, atrás apenas de Natal, Mossoró e Parnamirim. O Rio Grande do Norte tem 1,15 milhão de pessoas vivendo na extrema pobreza, com uma renda per capita de até R$ 105 por mês. Outros 154 mil potiguares estão em situação de pobreza, quando a renda mensal per capita fica entre R$ 105,01 e R$ 210. Ao todo, somando os grupos das duas faixas de renda – que são definidas pelo Ministério da Cidadania – o Estado tem 1,30 milhão de pessoas em alguma situação crítica de vulnerabilidade social, o que representa cerca de 1/3 da população. Os dados populacionais são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Um dos retratos desse cenário é o de Wellington Cabral, de 50 anos, que vive em situação de rua e está no patamar máximo de pobreza financeira. Ele conta com doações e a atividade de catador de recicláveis para tentar colocar alguma comida no prato. “Aqui a gente não sabe quando vai comer e se vai comer. A situação é precária. Ninguém liga pra gente não, acham que são tudo vagabundos. Veja aqui, a gente morando nesses barracos e essa ruma de prédio, de carro passando. É como se a gente não existisse”, diz Cabral, apontando para o fluxo de veículos próximo ao Viaduto do Baldo, na zona Leste de Natal, local onde se abriga com a esposa. O avanço da pobreza no Estado revela que uma parcela maior da população está comendo menos, analisam especialistas ouvidos pela TRIBUNA DO NORTE. Para efeito de comparação, a renda mensal de R$ 105 – realidade de 1,15 milhão de potiguares – seria suficiente para comprar apenas 25% de uma cesta básica em Natal, conforme cálculo baseado em pesquisas de preços dos alimentos do Procon. Em outros números, 32,2% da população do Rio Grande do Norte passa o mês com 8,6% de um salário mínimo.

Desemprego tem impacto na pobreza
O aumento da vulnerabilidade social é reflexo do ritmo lento de retomada econômica após o período mais crítico da pandemia, afirma Cassiano Trovão, professor do Departamento de Economia da UFRN. A pesquisa mais recente do IBGE, referente ao primeiro trimestre deste ano, mostra que 222 mil potiguares estão desempregados, o que corresponde a uma taxa de desocupação de 14,1%, acima da média nacional para o período (11,1%). O número aponta para uma alta na desocupação entre os potiguares. Até então, o Estado vinha de três trimestres seguidos de queda no desemprego. No segundo trimestre de 2021 era 16,3%, passou para 14,7% e fechou o ano com 12,7%. Trovão afirma que a recuperação do mercado de trabalho ainda não se confirmou, do ponto de vista da geração de novos postos de emprego.

Além da alta da extrema pobreza, a Secretaria de Estado do Trabalho, da Habitação e da Assistência Social também verificou um aumento de 16,3% no número de famílias inscritas no Cadastro Único, passando de 661.907 em abril do ano passado para 769.857 em abril último. O dado é mais um indicativo de perda econômica para o potiguar, diz Iris Oliveira, uma vez que a inscrição no CadÚnico é a porta de entrada para acessar programa de transferência de renda do Governo Federal, como Auxílio Brasil, Benefício de Prestação Continuada e Tarifa Social.

Renda de pobres cai 30% e cresce 3% entre ricos
A desigualdade de renda no Rio Grande do Norte em 2021 foi a maior desde 2012. O índice que mede a desigualdade de rendimento domiciliar por pessoa (Gini) foi de 0,587 no Estado, o segundo maior do Brasil e o maior da região Nordeste. O Rio Grande do Norte também tem a terceira maior desigualdade de renda do Brasil entre as pessoas com idade de trabalhar em 2021. O índice de Gini do rendimento médio mensal real, das pessoas de 14 anos ou mais (com origem em todos os trabalhos), do RN também alcançou a maior marca da série histórica iniciada em 2012: 0,542. Só Distrito Federal (0,551) e Paraíba (0,558) têm desigualdade mais acentuada.

Números
*Potiguares na extrema pobreza (renda menor que R$ 105/mês):

04/2021 – 369.248 famílias ou 1.036.338 pessoas;
04/2022 – 449.291 famílias ou 1.152.270 pessoas;
Diferença de 80.043 famílias ou 115.932 pessoas (+21,6%).

*Inscritos no Cadastro Único
04/2021 – 661.901 famílias ou 1.746.944 pessoas;
04/2022 – 769.857 famílias ou 1.897.781 pessoas;
Diferença de 107.956 famílias ou 150.837 pessoas (+21,6%).

Fonte: Cadastro Único/ Secretaria de Estado do Trabalho, da Habitação e da Assistência Social (Sethas).

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