
A cada novo depoimento revelado da ex-chefe da Divisão de Precatórios do Tribunal de Justiça do RN, Carla Ubarana, novas pessoas são citadas e, em seguida, novas explicações são dadas. Por isso, se ontem pela manhã a ré confessa citou a prefeita de Natal Micarla de Sousa, o advogado Felipe Cortez e, novamente, o procurador-geral do Município, Bruno Macedo, pouco depois eles se manifestaram e, claro, negaram as denúncias ou, pelo menos, explicaram as atitudes. No caso do advogado, que seria capaz de influenciar decisões e direcionar processos, Cortez não só explicou que Carla Ubarana não fez qualquer denúncia contra ele, como ainda afirmou que quem tem que se manifestar sobre negociação de decisões são os citados pela ré confessa. "Carla Ubarana não fez denúncias contra mim, por isso, não tenho que explicar. Quem tem que explicar é Rafael Godeiro e os advogados de Gilmar. Nunca advoguei para ele e, inclusive, já advoguei contra ele", garantiu Felipe Cortez. Ele teria sido citado por Carla Ubarana como envolvido no esquema de negociação de decisões com o desembargador e, até teria influenciado no despacho de Rafael Godeiro que teria liberado os bens de Gilmar de Carvalho, também conhecido como "Gilmar da Montana", réu na Operação Sinal Fechado e que teve seus bens seqüestrados em novembro do ano passado.
Mesmo assim, Felipe Cortez fez questão de afirmar que as denúncias feitas por Carla Ubarana são confusas. Até mesmo porque a liberação dos bens de Gilmar da Montana nem sequer foi analisada por Rafael Godeiro. "Na verdade, nem no País eu estava na época, então, não tive qualquer envolvimento. Posso garantir", acrescentou. Além disso, o advogado foi apontado por Carla Ubarana como alguém que manipula a colocação ou não de processos na pauta do TJ e, ainda, consegue direcionar os processos para análise de alguns desembargadores. Segundo Felipe Cortez, porém, o pedido para a retirada de processos da pauta até ocorre, mas quando o cliente tem mais de 70 anos ou tem outra audiência no horário marcado. "São direitos que o advogado e a parte têm". Como Carla Ubarana não fez denúncias claras contra Felipe Cortez, ele afirmou que não pretende processar a ré confessa do processo que investiga os desvios de dinheiro da Divisão de Precatórios do TJ. Porém, não escondeu certa insatisfação com as atitudes recentes dela. "Não falo com Carla Ubarana desde quando ela assinou a delação premiada, sem me avisar, mostrando que não confiava em mim", apontou Cortez, que era advogado de Carla Ubarana no início do processo.
BRUNO MACEDO
Quem também teve uma postura de negar o que foi dito por Carla Ubarana foi, novamente, o ex-procurador-geral do Município, Bruno Macedo. Por meio de nota enviada a imprensa, ele afirmou que "Nunca celebrei qualquer acordo ou recebi qualquer pagamento de precatório decorrente de processo que atuei como advogado privado", que teria, segundo a ré, solicitado a antecipação do pagamento de um precatório advogado por ele. "A única solicitação que dirigi à Sra. Carla Ubarana, enquanto Chefe da Divisão de Precatório do TJRN, foi no sentido de corrigir a titularidade do Precatório n.º 2009.010419-2, pois, tratando-se de honorários advocatícios, deveria estar em nome do meu escritório, e não em nome da empresa para qual nós advogamos", garantiu.
Segundo Bruno Macedo, o precatório em questão ocupa a 202ª posição na atual relação da ordem cronológica dos instrumentos precatórios do TJ. "Quanto ao precatório da Henasa, reitero as minhas manifestações anteriores, e reafirmo que tenho a minha consciência absolutamente tranquila por ter sempre pautado a minha vida profissional sob a égide do cumprimento irrestrito da legalidade e da transparência dos atos por mim exercidos", que já colocou a disposição da justiça seus sigilos bancário, fiscal e telefônico. "Enfatizo ainda que, ao longo de todo o processo envolvendo o chamado 'precatório da Henasa', não fiz qualquer cálculo, acordo ou gestão no sentido de beneficiar quem quer que seja. Como então Procurador Geral minha atuação sempre teve o foco voltado para os princípios do interesse público, tanto no assunto em tela, como fora dele".