Dados do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de
Estudantes) 2015, divulgados nesta terça-feira (6), indicam que o desempenho dos
estudantes brasileiros em matemática e ciências piorou em comparação aos dados
de 2012. Quando o assunto é a capacidade de leitura, os resultados seguem
preocupantes, já que a média não mudou desde então-- quando a pontuação já era
considerada ruim.
Em matemática, de acordo com o relatório, 70,3% dos estudantes
brasileiros ficaram abaixo do nível 2 de desempenho na avaliação --patamar
mínimo estabelecido pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico) como necessário para que o estudante exerça plenamente sua cidadania.
Na prática, os alunos não conseguem responder as questões da disciplina com
clareza e não conseguem identificar ou executar procedimentos rotineiros de
acordo com instruções diretas em situações claras.
A média nacional nessa disciplina foi de 377
pontos, muito abaixo da média da OCDE (490). Para dar uma ideia, as
regiões que tiveram as maiores médias foram Cingapura (564), Hong Kong --China
(548) e Macau-- China (544). Em 2012, a média nacional na mesma disciplina foi
de 389. Com isso, o país registrou recuo em seu desempenho.
Segundo a publicação, a habilidade em matemática é definida
como a capacidade individual de formular, empregar e interpretar a matemática em
uma série de contextos. Isso inclui o raciocínio matemático e o uso de
conceitos, procedimentos, dados e ferramentas para descrever, explicar e prever
fenômenos. Há seis níveis de proficiência na disciplina.
Metade dos alunos brasileiros continuam com
dificuldades de interpretação
Os dados do Pisa 2015 também apontam que 51% dos estudantes não
possuem o patamar que a OCDE estabelece como necessário para que se possa
exercer plenamente sua cidadania, considerando sua capacidade de leitura. Eles
não ultrapassaram o nível 2 dentro da escala de avaliação.
Com isso, é possível afirmar que os jovens brasileiros têm
dificuldades em lidar com textos e documentos oficiais, como notas públicas e
notícias. Além disso, têm problemas para interpretar informações e integrar
contextos. A pontuação do Brasil foi de 407, enquanto os
países da OCDE tiveram uma média de 493. A média brasileira foi a mesma de três
anos atrás, na última edição do Pisa.
Na outra ponta, os jovens brasileiros têm mais facilidade em
lidar com textos pessoais, como e-mail, mensagens instantâneas, blogs, cartas
pessoais e textos informativos. Eles também são bons em localizar e recuperar
informação dentro de um texto quando necessário.
Com sua pontuação, o Brasil teve o desempenho inferior ao de
regiões como Cingapura –que ficou em 1º lugar, com 535 pontos, Canadá (com 527)
e Hong Kong (China, com 527). O desempenho geral dos estudantes brasileiros em leitura está
abaixo da média da OCDE desde o início das avaliações da disciplina, em 2000
--conforme mostra o gráfico acima.
Desempenho em ciências segue estagnado
Em ciências, quando são avaliadas a capacidade de lidar com
conceitos, teorias, procedimentos e práticas associadas à investigação
científica, o Brasil contabilizou média de 401 pontos, valor
também inferior ao dos estudantes dos países membros da OCDE (493). Em relação
ao Pisa anterior (2012), a média (402) não mostrou grande diferença. O país
seguiu estagnado, já que a variação foi de apenas 1 ponto.
Ao comparar com a série histórica, nota-se que os brasileiros apresentaram um
crescimento médio de 390 para 405 pontos entre os anos de 2006 e 2009. Mesmo
assim, o desempenho dos alunos também já se mostrava ruim. Dentro da escala de avaliação do ano passado, 56,6% dos jovens brasileiros
tiveram desempenho abaixo do nível 2, ou seja, eles não são capazes, por
exemplo, de identificar uma explicação científica, interpretar dados e
identificar a questão abordada em um projeto experimental simples de
complexidade mediana.
Escolas públicas federais ficam à frente das escolas
particulares
Na separação dos resultados do Pisa 2015 por rede de ensino, a rede pública
federal obteve o melhor desempenho, ficando alguns pontos à frente da média
obtida pelos alunos de escolas particulares. Na área de ciências, a média
alcançada pelos alunos das escolas federais foi de 517 pontos, contra uma média
de 487 pontos dos alunos de colégios particulares.
Em leitura, os desempenhos
médios foram de 528 e 493, respectivamente, para os mesmos casos. Já em
matemática, enquanto a média obtida pelos alunos da rede de ensino particular
foi de 463 pontos, os alunos da rede federal alcançam, em média, 488
pontos. O desempenho dos alunos da rede pública federal também superou a
média nacional em cada uma das três áreas avaliadas --401 pontos em ciências,
407 pontos em leitura e 377 pontos em matemática.
Escala de proficiência
O estudo de 2015 avaliou 23.141 alunos brasileiros (de 841 escolas), com
idades entre 15 anos e 16 anos matriculados a partir do sétimo ano. O desempenho
dos estudantes foi analisado com base em sete escalas, que vão de 6, a mais
alta, até 1b, a mais baixa.
O que é o Pisa?
O Pisa busca medir o
conhecimento e a habilidade em leitura, matemática e ciências de estudantes com
15 anos de idade tanto de países membro da OCDE quanto de países parceiros. Ele
é corrigido pela TRI (Teoria de Resposta ao Item). O método é utilizado também
na correção do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio): quanto mais distante o
resultado ficar da média estipulada, melhor (ou pior) será a nota.
A avaliação já foi aplicada nos anos de 2000, 2003, 2006, 2009
e 2012. A cada ano é dada uma ênfase para uma disciplina: neste ano, foi a vez
de ciências. Dentre os países membros da OCDE, estão Alemanha, Grécia, Chile,
Coreia do Sul, México, Holanda e Polônia, dentre outros. Dentre os países
parceiros, estão Argentina, Brasil, China, Peru, Qatar e Sérvia.