O cineasta italiano Bernardo
Bertolucci, diretor de filmes como o polêmico "Último tango em Paris"
(1972), o premiado "O último imperador" (1987) e "Os
sonhadores" (2003), morreu nesta segunda-feira (26) aos 77 anos. De acordo com a imprensa italiana,
ele estava em casa, em Roma, mas a causa da morte não foi revelada. O jornal
"Corriere Della Sera" cita "uma longa doença". Considerado o último grande mestre do
cinema italiano, Bertolucci fez ainda obras-primas como "Antes da
revolução" (1964), "1900" (1976), "O conformista"
(1970).
Com "O último imperador"
(1987), levou o Oscar de melhor diretor (é o único italiano a ter levado o
prêmio), melhor filme e melhor roteiro. O longa faturou, ao todo, nove
estatuetas. Em maio de 2011, ele recebeu uma Palma de Honra, no Festival de
Cannes, pelo conjunto de sua obra. Além de filmes de ficção, Bertolucci
dirigiu documentários. Iniciou a carreira artística como poeta e também se
destacou como roteirista. Assinou, por exemplo, "Era uma vez no
oeste" (1968), de Sergio Leone. Ele era casado desde 1978 com Clare
Peploe.
Marlon Brando e Maria Schneider em 'O último tango em Paris' — Foto: Reprodução
Polêmica de
'Último tango...'
Nos últimos anos, Bernardo Bertolucci
vinha sendo alvo de críticas após ter vindo à tona um vídeo no qual ele admitiu
ter filmado uma cena de sexo não consentida em
"Último tango em Paris". No vídeo, gravado originalmente em
2013 mas republicado por uma ONG espanhola no final de 2016, Bertolucci conta
que a atriz Maria Schneider (1952-2011), na época com 19 anos, não sabia de
antemão o que aconteceria numa cena na qual Marlon Brando (1924-2004) usa
manteiga como lubrificante.
A sequência é uma das mais famosas e
polêmicas da história do cinema e intensificou a censura ao longa ao redor do
mundo. "A sequência da manteiga foi uma
ideia que tive com Marlon na manhã anterior à filmagem", lembrou o
diretor. "Fui horrível com Maria, porque não lhe disse o que iria acontecer".
De acordo com ele, a intenção era fazer Schneider reagir "como uma menina,
não como um atriz". No vídeo, Bertolucci conta ainda que
não voltou a ver a atriz depois das gravações do filme, porque "ela o
odiava". Na época, o diretor afirmou sentir-se culpado pelo episódio, mas
não arrependido. "Para fazer filmes e obter algo, às vezes precisamos ser
completamente frios."
Em uma entrevista de 2007 ao tabloide
britânico "Daily Mail", Schneider afirmou que se sentiu humilhada e
"um pouco estuprada" durante as filmagens. A atriz contou que a cena
não estava no roteiro original e que foi informada sobre o conteúdo pouco antes
da filmagem, mas disse que não houve sexo real. "Marlon me disse: 'Maria, não se
preocupe, é só um filme'. Mas, durante a cena, mesmo que o que Marlon estava
fazendo não fosse real, eu estava chorando lágrimas de verdade", disse. "Eu estava com tanta raiva. Eu
deveria ter ligado para o meu agente ou ter pedido que meu advogado fosse ao
set porque você não pode forçar alguém a fazer algo que não está no roteiro,
mas na época eu não sabia disso." "O último tango em Paris"
teve duas indicações ao Oscar: melhor diretor e melhor ator (para Brando).
Poeta
Bernardo Bertolucci nasceu em 16
março de 1941, em Parma. Seu pai, Attilio, era professor de história da arte,
poeta, escritor e crítico de cinema. Influenciado por Attilio, Bernardo
começou a carreira artística também como poeta (chegou a ganhar prêmios
literários). Cursou Literatura Moderna na Universidade de Roma, mas depois
optou por se dedicar ao cinema.
Inicialmente, trabalhou como
assistente de direção em "Accatone – Desajuste social" (1961), do
cinesta e escritor Pier Paolo Pasolini (1922-1975), amigo de Attilio. Foi também por influência de Pasolini
que Bertolucci dirigiu seu primeiro longa , "A morte" (1962). Com 21
anos, fez uma estreia com críticas negativas. O segundo filme, porém,
"Antes da revolução" (1964), teve recepção mais favorável. Da produção inicial, outros destaques
foram "O conformista" (1970), que rendeu indicação ao Oscar de melhor
roteiro adaptado, e "A estratégia da aranha" (1970).
Nos anos 1970, além de "O último
tango...", dirigiu "1900"( 1976), que tem no elenco grandes
nomes, como Robert De Niro, Burt Lancaster, Gérard Depardieu e Donald
Sutherland.
Ao longo das décadas seguintes,
Bertolucci lançou filmes que aumentaram sua popularidade e novamente com
elencos estrelados, caso de "O céu que nos protege" (1990), com John
Malkovich e Debra Winger, e "O pequeno Buda" (1993), protagonizado
por Keanu Reeves. Em "Beleza roubada" (1996), dirigiu Jeremy Irons e
a então novata Liv Tyler. Já neste século, uma de suas obras
mais conhecidas é "Os sonhadores" (2003), com Eva Green, Louis Garrel
e Michael Pitt vivendo três jovens em Paris durante o maio de 1968. O último longa de Bernado Bertolucci
é "Eu e você" (2012).