José Zeferino. Alagoas. Foram as últimas palavras ditas pelo
jovem de 23 anos. A princípio os policiais que o socorreram acreditavam ser este
seu nome. Não era. Ele se chamava Jadson da Silva Pereira, também alagoano, de
Maceió. A investigação suspeita que antes de morrer ele ainda teve forças para
denunciar o seu algoz. Os banhistas da Lagoinha do Norte, praia de
Florianópolis, pertinho de Canasvieiras, o viram correr desesperado, perseguido
por outros dois homens. Foi alcançado em frente à guarita dos salva-vidas. Foram
tantas facadas, que teve o rosto, as costas e o abdômen perfurados. Morreu na
areia, domingo, às 14h.
Seus assassinos fugiram. A Delegacia de Homicídios investiga o
crime. Nas praias floripanas sempre há nordestinos. Vendem cangas, redes,
castanhas ou queijo coalho. Às vezes, agentes da Prefeitura recolhem suas
mercadorias. No mais, trabalham sem folga, carregam cargas pesadas, alugam
barracos e os dividem com os colegas de labuta. São migrantes que vieram apenas
para trabalhar. Os vendedores não são vistos em bares ou restaurantes. Também
não vão à praia para apreciar um dia de sol, estirados nas cangas que vendem.
Na Capital catarinense permanecem por cinco meses, de outubro a março. Depois
voltam de ônibus para o Nordeste. Alguns assumem empreitadas em obras e ficam no
Sul do Brasil, onde a cultura dos descendentes de europeus preza o trabalho
braçal. Exceto se vier de nordestinos.
Mas o preconceito não é restrito às ruas. Gilead Maurício,
jornalista, natural de Natal, escreveu em seu blog uma crítica ao ex-governador
de Santa Catarina Jorge Bornhausen, que dizia “preferir ser a vaca que o bezerro
mamão” e foi enxovalhado de ofensas e ameaças: “Santa Catarina enquanto só
tinha moradores como Jorge Bornhausen,gente trabalhadora, destinta ,de sucesso,
era uma beleza,haja visto a beleza das pessoas, não é a toa que o mundo hoje
quer vir ver o verão de SC, penso que não é para ver cabeça chata, retirante que
vem atrás de oportunidade,que não conseguiu se colocar no seu estado natal,
então vem para ser a bosta da vaca, coitados destes nordestinos, feios,
despreparados,acabam tendo que vender rede na praia, pois não tem capacidade
para mais”. “Voce é um recalcado!! Pobre coitado, despreparado. Olhe para o
seu berço,de onde você veio?de gentalha!!quem é seu pai, sua mãe?? nada! não
valem nada, eles e as fezes da vaca não tem diferença, o que fizeram nesta vida
alem de colocar este verme no mundo!! vai embora nordestino desgraçado”. “NÃO VENHA MENTIR, SEU MALDITO CABEÇA-CHATA, QUE ROUBA 75% DOS
IMPOSTOS DO MEU ESTADO, DA MINHA REGIÃO.
Eu quero ver esses nordestinos
começaram a vir para cá em grande quantidade, eu vendo todas as empresas da
minha família e crio organizações pra matar nordestinos”. Quando morto, Jadson
arrancou um pouco de piedade dos turistas e choro de crianças. Em seguida, o
Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), o cobriu com manto celeste para
esperar a chegada dos funcionários do IML (Instituto Médico Legal). Estirado na
areia ficou por quase duas horas. Mas, azul também era o céu, a água cristalina.
Os banhistas não resistiram. Voltaram ao lazer. Mergulhos, banhos de sol, água
de coco. Jovens compravam cervejas dos ambulantes, meninos faziam um
castelinho, um casal se lambuzava de bronzeador, matronas controlavam os filhos
dentro d’água na tentativa de evitar afogamentos. Um vendedor de cangas se
aproximou. Várias pessoas foram ansiosas conferir os produtos. O corpo ainda
estava ali, ao lado, isolado com fitas.
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