
FORA – Presidente Dilma Rousseff ficará afastada do cargo até julgamento final(Ueslei Marcelino/Reuters)
Às 6h34 desta quinta-feira, o painel do Senado Federal
confirmou o afastamento de Dilma Rousseff da Presidência da República. Por 55
votos a 22, sem abstenções, os senadores decidiram que a petista deve ser
julgada por crime de responsabilidade. Mas o resultado representa muito mais:
com a possibilidade de que Dilma se safe na votação final hoje muito distante, a
Casa começou a por fim à era PT no comando do país. Os 13 anos do partido à
frente do Planalto se encerram de maneira melancólica - com a legenda imersa em
escândalos e incapaz de salvar uma presidente que, ao fim e ao cabo, cai por
culpa de sua própria incompetência. Diante das crises política, econômica e
ética em que o governo Dilma submergiu o país, o afastamento da petista
representa o primeiro passo rumo à recolocação do Brasil nos trilhos. Mas
exigirá do peemedebista Michel Temer que se coloque à altura do desafio: afinal,
a saída de Dilma não tem o condão de sanar o atoleiro econômico do país. Ou de
reduzir o justo descontentamento nacional com a classe política diante dos
escândalos que há dois anos a Operação Lava Jato começou a desvendar. Será uma
dura missão para Temer.
Dilma pode ficar até 180 dias afastada do comando do país,
enquanto o Senado se volta ao julgamento do processo que tramita contra ela.
Segundo a expectativa do presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL),
contudo, em até quatro meses a petista enfrentará a derradeira votação - aquela
do plenário da Casa, que pode resultar em seu impeachment e inelegibilidade por
oito anos. Reclusa nos palácios da Alvorada e do Planalto, a presidente
acompanhou com os poucos aliados que lhe restam as mais de 20 horas de discursos
no plenário do Senado. Havia desistido, ainda na terça-feira,
de descer a rampa do Planalto após receber a notificação oficial de seu
afastamento. Julgou que isso prejudicaria seu discurso de 'resistência contra um
golpe' - discurso que planeja seguir martelando, ainda que lhe falte qualquer
respaldo na realidade. Dilma ameaça recorrer à Comissão Interamericana dos
Direitos Humanos e seguir apelando ao Supremo Tribunal Federal - que já lhe
impôs uma sucessão de derrotas. Ambas as empreitadas devem ser em vão. Os
ministros do STF foram justamente os responsáveis por definir o rito do
impeachment ora seguido pelo Congresso. Sem que o governo tenha levantado
argumentos que justificassem uma revisão das decisões dos parlamentares, negaram
todos os recursos já impetrados até aqui pelo governo contra o processo,
incluindo o mandado de segurança apresentado na terça-feira.
Ao negar o recurso, o ministro Teori Zavascki utilizou-se de um
argumento que indica as escassas chances de vitórias futuras do governo na
judicialização do impeachment. "Não há base constitucional para qualquer
intervenção do Poder Judiciário que, direta ou indiretamente, importe juízo de
mérito sobre a ocorrência ou não dos fatos ou sobre a procedência ou não da
acusação. O juiz constitucional dessa matéria é o Senado Federal, que,
previamente autorizado pela Câmara dos Deputados, assume o papel de tribunal de
instância definitiva, cuja decisão de mérito é insuscetível de reexame, mesmo
pelo Supremo Tribunal Federal. Admitir-se a possibilidade de controle judicial
do mérito da deliberação do Legislativo pelo Poder Judiciário significaria
transformar em letra morta o art. 86 da Constituição Federal", escreveu o
magistrado. À perdedora, resta o infrutífero discurso de vitimização. E do medo.
Na iminência de ver o processo de impeachment consolidado, a cúpula petista e a
própria presidente agora afastada vituperaram, em uma versão ampliada do
terrorismo eleitoral levado a cabo em 2014, que Michel Temer acabaria com
programas sociais e cortaria direitos trabalhistas. Enunciado esperado de quem
promoveu o aviltamento da Presidência da República, afundou o país em uma
dolorosa crise econômica e insiste na retórica irredimível de que misteriosas
"forças conservadoras" querem apeá-la do poder - apesar da maciça rejeição ao
seu governo estampada nas pesquisas de opinião.
O impeachment, que deu mais um passo hoje com a aprovação em
plenário do relatório do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), é um processo
jurídico-político e no Congresso respeitou o amplo direito de defesa e o
contraditório. O advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, apresentou em
três ocasiões - apenas no Senado - a defesa da presidente contra as acusações de
pedaladas fiscais e de maquiagem das contas públicas com a liberação de créditos
suplementares. Em outras três, apresentou diante de deputados a defesa da
petista nas sessões da Câmara. Ao contrário do que insiste em afirmar no
festival de inaugurações que promoveu no fim de seu governo, Dilma não está -
como nenhum político eleito democraticamente - imune a questionamentos de
legitimidade, mesmo com os 54 milhões de votos que as urnas lhe outorgaram em
2014. A partir desta quinta-feira, o quarto andar do Palácio do Planalto será
ocupado por um novo inquilino. Michel Temer chega à Presidência com predicados
de que Dilma nunca dispôs, como a habilidade no trato político. Mas a crise é
profunda, e não há espaço para erros e hesitação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário