
O presidente Michel Temer durante Gravação para o programa Roda Viva da TV Cultura no Palácio da Alvorada.
O presidente Michel Temer disse que está estudando uma nova ajuda financeira
aos estados com o dinheiro arrecadado com a repatriação. Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, o presidente
disse que a ideia ainda não está concluída e que vai depender de análises da
área econômica do governo, mas a intenção seria fazer uma "reequação" para
socorrer as unidades da federação.
De acordo com Temer, o objetivo é chegar a uma proposta que auxilie não
apenas o Rio de Janeiro, em grave crise econômica, mas também os demais estados.
"Com a repatriação nós temos uma verba que vai indo para os estados, outra
que vai indo para os municípios. Os prefeitos estão recebendo praticamente mais
um FPM [Fundo de Participação dos Municípios], que vai dar basicamente para
aquelas despesas finais, como 13º salário. O que está sobrando, está sobrando
uma verba, [que] terá dois destinos. Cerca de R$ 20 bilhões. Ou vai para restos
a pagar ou vai para uma reequação que nós estamos pensando em fazer com os
estados. Como eles estão em uma dificuldade extraordinária, nós podemos, quem
sabe, pegar essa verba", disse, repetindo que ainda é necessário verificar com a
equipe econômica sobre a viabilidade dessa proposta se concretizar.

Segundo Temer, a possibilidade de intervenção do Rio foi mencionada durante conversa com o governador Luiz Fernando Pezão, mas não chegou a ser aprofundada pelas consequências negativas que traria.
"Desde logo, eu ponderei que se nós tivéssemos a intervenção, primeiro,
paralisaria o Congresso. As emendas constitucionais não poderiam tramitar, como
determina a Constituição. Para nós, para o governo e para o país, seria um
desastre absoluto", disse.
Durante a entrevista, que durou cerca de uma hora e meia, o presidente disse
que está "satisfeitíssimo" com os primeiros seis meses de governo, ressaltando o
apoio dos senadores e deputados na aprovação de diversas medidas. Segundo ele,
se o teto para os gastos públicos, a mudança nas regras de aposentadoria e as
demais reformas forem aprovadas o governo terá feito "uma boa parte do seu
trabalho".
Ocupações de escolas
Michel Temer disse que o prazo médio de sete meses para discutir a reforma do
ensino médio no Congresso Nacional é "mais do que suficiente". Ele defendeu,
porém, que o objetivo do governo ao enviar uma medida provisória sobre o tema
foi estimular o debate e que, se ao final das discussões, a melhor saída for
aprovar um projeto de lei que já estava no Legislativo, ele irá "aplaudir". Sobre as ocupações de escolas por estudantes que se opõem à MP e à proposta
que cria um teto para os gastos públicos, o presidente disse se tratar de um
protesto "físico, não argumentativo".

"Os movimentos, eu admito, perfeitamente. Lamento por eles, porque no meu
tempo de estudante, era assim: você examinava, discutia, chamava pessoas para
dialogar e, às vezes, até protestava fisicamente. O que eu vejo hoje é que há
muito protesto físico. Não há protesto argumentativo, oral, intelectual. Eu digo
isso, as pessoas acham 'O Temer fez ironia'.
Não é isso. Eu estou dizendo a
realidade", disse. Temer voltou a dizer que "seguramente" enviará ainda este ano os projetos de
reforma da Previdência ao Congresso Nacional, depois de apresentá-la aos
representantes dos trabalhadores e da sociedade. "A ideia é uma reforma para perdurar para sempre. Evidentemente quem dá a
última palavra é o Congresso Nacional. Hoje temos um apoio muito sólido no
Congresso. Não vamos mandar simplesmente sem antes reunir as centrais sindicais.
É difícil talvez apoiar, mas pelo menos você vai asfaltando terreno. [Não
enviaremos] sem falar com setores da sociedade, com líderes da Câmara e do
Senado, sem fazer uma espécie de esclarecimento público, por meio da televisão,
dos jornais, da necessidade da reforma da Previdência", disse.
Lava Jato
Quanto à possibilidade de membros do governo estarem envolvidos nas
investigações da Operação Lava Jato, o presidente disse que conversaria com o
ministro ou autoridade hipoteticamente denunciada. "Primeira coisa que eu sugiro, vamos deixar a Lava Jato em paz. No TSE eu não
tenho preocupação. Tenho sustentado com muita ênfase porque acredito
juridicamente que são figuras apartadas, do presidente da do vice-presidente. As
contas são julgadas ao mesmo tempo mas são fisicamente prestadas em apartado.
Tanto que quando acabei de mencionar o caso do cheque que o PMDB colocou na
minha conta é porque tinha uma conta da candidatura do vice-presidente da
República", disse, referindo-se à ação movida contra a chapa dele e da
ex-presidente Dilma Rousseff no Tribunal Superior Eleitoral.
Especificamente sobre a possibilidade de o senador e ex-ministro Romero Jucá
(PMDB-RR) assumir a liderança do governo no Congresso, Temer negou incoerência
no fato de ele ser escolhido para o cargo após ter deixado o comando do
ministério do Planejamento. O presidente disse que tanto Jucá como os demais
ex-ministros não foram demitidos e sim preferiram deixar o governo.

"Ele não teve morte política ainda decretada. Nós no Brasil
estamos acostumados a este fato: se alguém fala de outrem, estamos acostumados a
esta condenação. Ele está no pleno exercício da sua atividade política. É uma
figura capaz de uma articulação extraordinária sob o foco legislativo. Quando o
senador Jucá vier a assumir, eu estou apenas atento a estas circunstancias. Não
vejo razão para ele não poder ocupar a liderança do governo", disse.
Ao ser perguntado sobre a hipótese de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva ser preso, Temer disse que o fato poderia criar problemas para o governo.
"O que eu espero, e acho que útil para o governo, é que, se houver, como tem
havido acusações contra o ex-presidente, que elas sejam processadas com
naturalidade. Se você me perguntar se o Lula for preso, se isso causa problema
para o governo? Acho que causa, não é para o governo, é para o país. Acho que
haverá movimentos sociais. Toda vez que você tem movimento social de contestação
especialmente a uma decisão do Judiciário, isto pode criar uma instabilidade",
disse, acrescentando que prefere não comentar as possibilidades de alianças e
candidaturas para as próximas eleições presidenciais antes de 2018.
Estados Unidos
No campo internacional, Temer disse que vai aguardar as primeiras declarações
do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, quando assumir, mas
defendeu um maior "prestígio" entre as relações entre o país norte-americano e o
Brasil. "Os Estados Unidos são um país onde as instituições são fortíssimas. Não
vamos imaginar que o presidente chega ao poder e o exerce com autoritarismo.
Isso não vai acontecer. Há uma série de condicionantes a partir do Congresso que
acho que dimensionarão a atividade do presidente. Vamos aguardar o que ele vai
fazer. É um parceiro comercial atuante do Brasil. Eu duvido que ele faça algo
que tente afastar o Brasil", disse.
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