
O ataque hacker que atingiu 99 países nesta sexta-feira
não tem precedente na história do cibercrime. Menos de 24 horas
depois de identificado, já atingiu mais de 75.000 computadores e servidores ao
redor do mundo. As instruções que aparecem na tela das vítimas foram preparadas
em 28 idiomas diferentes, inclusive português. Todo esse planejamento e
execução, realizados com precisão, dependem da existência de uma infraestrutura
específica, investimento e organização. “Tudo indica que é um grupo
internacional. E não é um grupo pequeno”, diz Fábio Assolini, que faz parte da
Equipe de Pesquisa e Análise Global da Kaspersky, empresa russa de segurança que
descobriu a infecção virtual na noite de quinta-feira.
“Foi um ataque muito bem planejado e com objetivo financeiro
claro. E foi arquitetado para afetar o maior número de vítimas, com pedido de
resgate no idioma da vítima”, completa Assolini. O profissionalismo do grupo
pode ser constatado até mesmo na programação do vírus. Apesar dos esforços de
agências de internacionais, empresas de segurança e especialistas, até agora não
foi possível identificar os responsáveis. “Sabe-se apenas que é um grupo muito
organizado e provavelmente composto por pessoas de diversos países”, diz o
especialista de cibersegurança Carlos Borges, da empresa de tecnologia Arcon. Os
hackers utilizaram uma brecha do sistema Windows para codificar
os computadores atingidos, tornando-os inacessíveis para o usuário. Depois
exigiram o pagamento de resgates no valor de 300 dólares (cerca de 940 reais)
para desfazer a criptografia. Sem o código em poder dos bandidos, é impossível
reaver os dados.
O impacto do bloqueio de informações varia. Uma empresa que
mantenha tenha back-ups recentes, pode simplesmente reiniciar o sistema e
utilizar a última versão de seus servidores, sem grande prejuízo. Mas as
consequências também podem ser sérias. Na Inglaterra, por exemplo, o ataque fez
com que 16 hospitais fossem obrigados a trabalhar sem seus
equipamentos, o que comprometeu seriamente a capacidade de atender os
pacientes. No Brasil, de acordo com Borges, dezenas de empresas foram atingidas,
apesar de nenhuma assumir publicamente. Em diversos locais, os
funcionários foram orientados a desligar os computadores como medida de
precaução, para evitar o ataque. Para receber o dinheiro o grupo criou dezenas
de contas de bitcoin, uma moeda virtual usada para pagamentos na internet.
Apesar dos especialistas recomendarem o que o resgate não seja pago, no começo
da tarde já se podia verificar a movimentação nessas contas. Em apenas uma
delas, foram pagos vinte resgates, no valor total de 6.000 dólares. O modelo de
funcionamento da bitcoin, que é autogerenciada e não possui nenhuma instituição
financeira ou governo por trás, garante que as transações aconteçam no anonimato
e de forma não rastreável.
Cibercrime em expansão
A disseminação global de vírus de computadores não é novidade,
mas este foi o primeiro ataque em massa que não dependeu da ação direta do
usuário – como executar um arquivo ou clicar em um link malicioso – para
infectar o sistema. Os cibercriminosos utilizaram-se de uma vulnerabilidade do
Windows que permite tomar o controle de uma máquina apenas enviando um email
para ela, mesmo que a mensagem não seja aberta.
Os ataques hackers são divididos basicamente em dois tipos: os
ataques por ‘malware’, em que o vírus infecta o sistema para acessar
informações ou causar danos (como impedir a reinicialização do computador), e
por ‘ransomware‘, em que o criminoso sequestra os dados ao
criptografá-los, deixando-os inacessíveis para o usuário, e exige o pagamento de
resgate. A ação de hoje se enquadra no segundo tipo. A falha de segurança foi
solucionada pela Microsoft na ultima atualização de seu sistema, disponibilizada
gratuitamente na segunda-feira, mas se o usuário não baixar a correção continua
exposto. Por isso mesmo, o número de vítimas deve continuar subindo nos próximos
dias.
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