Em todo país, circulam ondas
eletromagnéticas que transmitem informações importantes para a garantia de
direitos e para a democracia. Tais ondas podem ser decodificadas por pequenas
caixas que podem funcionar apenas com pilhas. De tão relevantes, essas caixas
têm, a elas, um dia que foi mundialmente reconhecido pela Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco): o Dia Mundial do
Rádio, comemorado neste sábado, 13 de fevereiro. O potencial comunicativo do rádio já foi comprovado em vários momentos ao longo
da história. Em um deles, ocorrido em outubro de 1938, milhares de
norte-americanos entraram em pânico ao ouvirem, na rádio CBS, o ator Orson
Welles alertando sobre uma suposta invasão de marcianos.
Tratava-se apenas de um
programa de teleteatro, uma versão radiofônica do livro A Guerra dos
Mundos, de H.G Wells. Ao se dar conta do alvoroço entre a população, a
emissora teve de interromper o programa para esclarecer o fato aos ouvintes que
não haviam assistido a parte inicial da transmissão.
Violência contra radialistas
Adauto Soares acrescenta que o
interesse da Unesco em trabalhar neste campo da comunicação está relacionado à
visão de que o acesso à informação é parte integrante do direito à
comunicação. “Até porque, sabemos, quando um país tem sua democracia atacada, é
o direito à comunicação o primeiro a ser silenciado.”
Segundo o coordenador da Unesco, que desenvolve também um trabalho de denúncia de violações de direitos humanos contra jornalistas, os radialistas são as maiores vítimas desse e de outros tipos de violação. “De um total de 56 jornalistas assassinados em todo o mundo em 2019, 34% atuavam no rádio; 25% em TV; 21% em mídia online; 13% em mídia impressa e 7% em plataformas mistas. Desse total, três mortes ocorreram no Brasil”, disse, citando números do levantamento Protect Journalists, Protect the Truth, publicado pela Unesco em 2020.
Novas tecnologias
A criatividade é uma das
características que sempre acompanharam o rádio. Com a chegada de novas
tecnologias, em especial, as ligadas à tecnologia da informação, o rádio
manteve seu aspecto inovador e continua a se reinventar. Presidente da Associação
Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Flávio Lara Resende
lembra que muito se falou sobre a morte do rádio, com a chegada da TV. “Foi
quando o rádio perdeu espaço. Mas não perdeu importância”, disse. “Se perdeu alguma importância
após a chegada da TV, depois voltou a ganhar [importância] quando apareceram
novas plataformas, e ele se reinventou, apresentando programações segmentadas,
canais específicos de jornalismo herdados, influenciados e influenciadores da
TV”, disse o presidente da Abert. “Hoje, com a internet, ouve-se
a notícia radiofônica e vê-se os jornalistas que fazem a notícia.
O rádio continua a ter grande importância e está aumentando cada vez mais, reinventando-se diariamente”, acrescentou.Diante da necessidade de se reinventar constantemente, a Rádio Nacional lançou recentemente (no dia 10 de fevereiro, em meio às celebrações pelo Dia Mundial do Rádio) seu perfil na plataforma Spotify no qual o público pode ouvir – onde e quando quiser – “o melhor da música brasileira”. Para acessar o serviço, basta acessar as playlists “É Nacional no Spotify”.
Estatísticas
O Brasil registra 5,1 mil
rádios comerciais, 700 educativas, 458 rádios públicas e 4,6 mil comunitárias,
segundo o Ministério das Comunicações - Marcello Casal Jr/Agência
Brasil De acordo com o Ministério das
Comunicações há, no Brasil, cerca de 5,1 mil rádios comerciais (3.499 na banda
FM; e 1325 nas bandas AM, entre ondas médias, curtas e tropicais). Há, ainda,
cerca de 700 rádios educativas; 458 rádios públicas; e 4.634 rádios comunitárias. De acordo com a pesquisa, 81%
dos ouvintes escutam rádio por meio de rádio comum; 23% pelo celular; 3% pelo
computador; e 4% por meio de outros equipamentos, como tablets.
O crescimento que vem sendo observado na audiência via web demonstra, segundo a Kantar, “a grande capacidade de adaptação do rádio”. Segundo a pesquisa, 9% da população que vive nas 13 regiões metropolitanas pesquisadas ouviram rádio web nos últimos dias. O percentual é 38% maior do que o registrado no mesmo período de 2019. Em um ano (entre 2019 e 2020), o tempo médio diário dedicado ao rádio via web aumentou em 15 minutos, passando de 2h40 para 2h55, diz a pesquisa. Além disso, 16% dos ouvintes pesquisados escutam rádio enquanto acessam a internet.
Os podcasts também têm ganhado popularidade. Entre os ouvintes de rádio que acessaram a internet durante a pandemia, 24% ouviram podcasts; 10% aumentaram o uso de podcasts; e 7% ouviram um podcast pela primeira vez. As chamadas lives também registraram aumento de audiência durante a pandemia, com 75% dos entrevistados dizendo ter começado a assistir lives de shows a partir do início das medidas de isolamento social impostas pela pandemia de covid-19. Ainda segundo o levantamento da Kantar, 75% dos ouvintes de rádio disseram ouvir rádio "com a mesma intensidade, ou até mais", após as medidas e 17% disseram ouvir "muito mais" rádio após o isolamento.
Preocupação
A associação do rádio com
novas tecnologias, no entanto, deve ser vista com cautela, para não acabar
inviabilizando o formato tradicional desse tão
importante veículo. “Emissoras de rádio hoje são em rede, mas a
do interior, com outra realidade, não tem essa capacidade de recurso para
investimento, como as grandes redes estão fazendo, em especial, quando transformam
rádio em uma nova espécie de televisão”, alerta o jornalista Valter Lima.
Segundo ele, ao condicionar o
rádio à necessidade de contratação de serviços como o de internet, perde-se
exatamente o aspecto democrático que esse veículo sempre
teve. “Uma coisa que achatou o desenvolvimento do rádio,
infelizmente, foi o fato de ele estar nas mãos de grupos poderosos que possuem
também emissoras de televisão [e, em alguns casos, vendem também serviços de
internet]. Isso causa um grande desequilíbrio porque, enquanto as TVs estão com
equipamentos cada vez mais modernos, há, no interior do Brasil, muitas rádios
ainda operando com equipamentos que já até deixaram de ser fabricados”,
acrescenta.
Rádios comunitárias
O radialista destaca também o
importante papel que as emissoras de rádio comunitárias têm para as
regiões “ainda que pequenas” às quais prestam o serviço. Segundo ele, pela
proximidade que têm com suas comunidades, essas rádios estão muito mais
“antenadas”, com as necessidades locais, do que os grandes grupos de
radiodifusão.
Entre os muitos desafios das rádios comunitárias, Valter Lima destaca a necessidade de elas saírem das amarras burocráticas impostas pela legislação. “É por causa disso que essas rádios, com serviços tão importantes para suas comunidades, não conseguem ir além daquele pedaço tão pequeno. Há também as dificuldades para conseguirem lucros mínimos, de forma a poderem investir e evoluir”, disse o jornalista.
Tempo real
Um outro aspecto acompanhou o
rádio ao longo de sua história: a rapidez com que a notícia é dada, quase que
simultaneamente ao fato noticiado. Anos depois, com a ajuda de equipamentos
tecnológicos como celulares e internet móvel, outros veículos ganharam
velocidade e deram a esse novo tipo de jornalismo veloz o nome de
tempo real. “O rádio sempre foi e continua
sendo o primeiro a dar a notícia. O furo é sempre do rádio.
Essa é a nossa rotina. Enquanto o outro veículo está digitando texto ou preparando a transmissão nós já estamos no ar usando apenas um aparelho telefônico”, explica Valter Lima. “Antes do advento do celular, a notícia era dada por meio dos famosos orelhões. Os repórteres andavam com umas 20 fichas no bolso e um cadeado. Sim, um cadeado para travar o telefone, de forma a inviabilizar seu uso pelo concorrente”, lembra o radialista.
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