
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes
classificou como uma "brincadeira com o STF" o vazamento
dos pedidos de prisão da cúpula do PMDB feitos pelo
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, por suspeita de atrapalhar as
investigações da Operação Lava Jato. A avaliação é de que as solicitações de
prisão do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), do senador Romero
Jucá (PMDB-RR), do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e de
prisão domiciliar do ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), com uso de
tornozeleira eletrônica, colocam o Supremo sob pressão. O despacho que aponta a
necessidade das prisões está há dias na mesa do ministro Teori Zavascki, relator
do petrolão, mas ainda não houve nenhuma manifestação do magistrado.
Em tom irritado, Mendes disse que os responsáveis pelo
vazamento dos pedidos de prisão estão "cometendo crime" e "têm que ser chamados
às falas". O magistrado não atribuiu diretamente à Procuradoria-Geral da
República a divulgação das solicitações de prisão, mas criticou o fato de
processos ocultos, que recebiam o mais alto grau de sigilo no Supremo e
recentemente foram extintos, serem frequentemente revelados pela imprensa. "Na
verdade, tem ocorrido, vamos dizer claramente. Processos ocultos, que vêm como
ocultos, e que vocês [imprensa] já sabem e que divulgam no Jornal
Nacional antes de chegar ao meu gabinete. Isso tem ocorrido e é preciso ter
cuidado, porque é abuso de autoridade claro", declarou Gilmar. "Os responsáveis
têm que ser chamados às falas. Não se pode brincar com esse tipo de coisa. Isso
é algo grave. É uma brincadeira com o Supremo. É preciso repudiar isso de
maneira muito clara", completou o ministro.
O procurador-geral Rodrigo Janot pediu ao Supremo a prisão dos
peemedebistas por suspeita de tentarem barrar as investigações da Operação Lava
Jato. A trama contra a Lava Jato foi gravada pelo ex-presidente da Transpetro
Sérgio Machado. Nas conversas, Renan sugere mudar a lei para inibir a
delação premiada, ao passo que Jucá descreve uma articulação política
dele e de outros líderes para derrubar a presidente Dilma e, a partir daí,
"estancar a sangria da Lava Jato". Conforme revelado em VEJA
desta semana, em seu acordo de delação premiada, Machado disse que distribuiu 60
milhões de reais em propina para peemedebistas durante os doze anos que esteve à
frente da estatal, entre eles Renan, Sarney e Jucá - apenas ao ex-presidente da
República, foram 19 milhões de reais. Machado também contou que guardava
dinheiro no exterior para políticos, entre eles o presidente do Senado.