
Ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, afirmou que jornada de 12 horas é "voltar ao tempo da escravidão" (Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados)
O ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, negou na manhã desta
sexta-feira que a proposta do governo para a reforma trabalhista pretenda elevar
o limite da jornada diária de 8 para 12 horas. Segundo ele, o objetivo da
reforma trabalhista, que deverá ser encaminhada ao Congresso Nacional no início
de dezembro, é reduzir a insegurança jurídica para combater o desemprego e a
informalidade. “Venho do meio sindical. Imagina se apresentaria proposta de
aumento de jornada. Serão mantidas as 44h de trabalho por semana”, afirmou o
ministro em entrevista à Rádio Estadão. “Não se falou em aumentar a
jornada para 48 horas semanais. Citei apenas um exemplo hipotético”, justificou.
A referência foi ao debate que o ministro teve nesta quinta-feira com
representantes sindicais de dezenove Estados. “Doze horas é voltar ao tempo da
escravidão. Direito você mantém, não retira”, disse.
Nogueira enfatizou que a legislação trabalhista abre muitas
margens para interpretações subjetivas. Ele argumentou que há cerca de 1.700
regras, entre normas, regulamentações e leis além da CLT. “A lei é esparsa e
confusa e abre margem para interpretações”, afirmou. O ministro garantiu que não
há nenhuma discussão que coloque em risco os direitos do trabalhador. “Jornada
de trabalho, 13º salário, férias e fundo de garantia (FGTS) são direitos
consolidados”, disse.
Micro e pequenas empresas
Nogueira defendeu a
pacificação da legislação a fim de evitar os processos trabalhistas que
“atormentam” empresários, sobretudo, segundo o ministro, os proprietários de
micro e pequenas empresas. “Se o sindicato da categoria, mediante acordo
coletivo e obedecendo à vontade dos trabalhadores, preferir fazer uma jornada
diferente do padrão, o juiz tem de reconhecer isso”, afirmou.
O ministro deu um exemplo para ilustrar: “Tem muito trabalhador
da construção civil que prefere trabalhar de segunda a sexta e folgar no
sábado”, afirmou. “O Estado não pode impor um jugo sobre a vontade do
trabalhador”, disse. “Precisamos de segurança jurídica na relação capital e
trabalho.”
Ronaldo Nogueira afirmou que a confusão sobre a jornada de
trabalho surgiu da má interpretação que ele deu no evento com sindicalistas na
quinta-feira. “Citei o exemplo dos hospitais, que têm a jornada 12h por 36h, que
é feita mediante convenção coletiva”, disse, argumentando que essas organizações
sofrem “ações trabalhistas milionárias por falta de reconhecimento desse acordo
coletivo.” O ministro afirmou ainda que tem conversado e que continuará
debatendo as questões trabalhistas com “todos os atores”, incluindo não apenas
trabalhadores e patrões, mas também os tribunais do trabalho. “(O presidente
Michel) Temer quer diálogo permanente”, disse.