Você acha engraçado quando seu filho fala errado? Ele costuma inverter as
sílabas das palavras, como salada por sadala? E quanto às rimas, ele tem
dificuldade para aprendê-las? ‘Um
dois, feijão com arroz’, por exemplo? Estas podem ser algumas
manifestações iniciais da dislexia,
um Transtorno Específico da Aprendizagem, cuja origem é neurobiológica e afeta
cerca de 7% da população em geral.
De acordo com a
neuropediatra Dra. Andrea Weinmann,
a dislexia se caracteriza pela dificuldade em reconhecer as palavras, ler e
escrever. “A condição não está relacionada à inteligência, pois são
crianças com as funções intelectuais normais. Também não está relacionada à
falta de oportunidades ou ao ensino inadequado”. “A dislexia está ligada a
um déficit fonológico, ou
seja, ela não desenvolve a consciência de que a linguagem é formada por
palavras, as palavras por sílabas, as sílabas por fonemas e que os fonemas são
as letras do alfabeto que representam os fonemas. Para que a leitura e a
escrita ocorram, é necessário que todo esse processo seja entendido de uma
forma automática”, explica a neuropediatra.
Dislexia,
cérebro e genéticaVários estudos de imagem ao longo
dos anos revelaram que pessoas com dislexia apresentam ativações anormais de
estruturas cerebrais envolvidas no processamento da linguagem. Além disso,
pesquisas genéticas já identificaram mutações genéticas envolvidas na dislexia,
presentes em vários membros de uma mesma família. Há ainda os fatores
ambientais, como nível socioeconômico dos pais, estimulação ao letramento, entre
outros, que podem levar à condição.
Atraso
na fala é sinal de alertaO diagnóstico da dislexia só é
feito depois dos 6 anos, idade em que a criança começa a ser alfabetizada.
Entretanto, na idade pré-escolar, algumas manifestações podem sugerir um quadro
de dislexia. “Em alguns casos, a criança pode apresentar atraso no
desenvolvimento da fala, ter um comportamento mais desatento ou disperso, pode
ter mais dificuldade em aprender músicas ou rimas simples, por exemplo”,
cita a neuropediatra.
A dislexia também pode afetar a
pronuncia de palavras mais complexas. A criança pode omitir ou inverter os sons
das palavras. “Alguns pais, por desconhecimento, podem achar engraçado
quando a criança diz uma palavra errada. Claro que na aquisição da linguagem
isso vai acontecer. Porém, é preciso dar o modelo correto da palavra. Se mesmo
assim, os erros de pronúncia se repetirem ou a fala estiver atrasada ou
defasada, o ideal é consultar um especialista”, comenta Dra. Andrea.
Já na fase escolar, os sinais
ficam mais evidentes e a escola certamente irá transmitir aos pais informações
importantes. “Além da dificuldade de ler e escrever, são alunos com
níveis mais altos de distração, costumam confundir as direções, esquerda com
direita, podem ter mais dificuldade para copiar tarefas de livros ou do quadro.
Também podem apresentar um vocabulário mais empobrecido, usando frases curtas
ou ainda muito longas e vagas”, diz a especialista.

Dislexia
e Comorbidades
Na última versão do DSM-V (Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), todos os transtornos de
aprendizagem foram classificados dentro do diagnóstico geral do Transtorno
Específico de Aprendizagem, incluindo dislexia, discalculia, disgrafia, disortografia, entre outros. Isso porque em cerca de metade
dos casos, a criança pode apresentar mais de um transtorno. Outro diagnóstico
muito prevalente nessa população é o Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade (TDAH). Estima-se
que de 25 a 40% das crianças apresentam os dois diagnósticos, ou seja, de TDAH
e de dislexia, concomitantemente.
Diagnóstico
e TratamentoO diagnóstico é feito pelo neuropediatra, em parceria com uma
equipe de profissionais, como um neuropsicólogo,
um geneticista, entre
outros. Quanto ao tratamento, é importante dizer que a dislexia não tem cura.
Mas, a intervenção precoce é fundamental para ajudar a criança no processo da
aprendizagem. “Essas crianças podem e conseguem
aprender, mas para isso é preciso adaptar os materiais, o método de avaliação e
de ensino, assim como é preciso que os pais façam treinamentos específicos e
estejam engajados no processo de aprendizagem para contribuir para o sucesso na
vida acadêmica da criança e do adolescente”, conclui Dra. Andrea.