Servidores da
saúde durante ato em frente à Sesap na terça-feira, 19/AGORA RN
A greve dos servidores estaduais da saúde chegou ao
43º dia nesta quarta-feira, 20. De braços cruzados desde 5 de fevereiro, a
categoria é uma das mais descontentes com a gestão da governadora Fátima
Bezerra, que ainda não estabeleceu um prazo para pagar as quatro folhas
salariais herdadas do governo Robinson Faria (2015-2018). Na terça-feira, 19, parte do funcionalismo realizou
um protesto em frente à sede da Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap),
em Natal, para reivindicar melhores condições de trabalho e o pagamento dos
salários atrasados. A categoria terá um encontro com Fátima nesta quinta-feira,
21, e espera receber uma proposta convincente – que deverá ser analisada em
assembleia na segunda-feira, 25.
Coordenador geral do Sindicato dos Servidores da
Saúde (Sindsaúde), Breno Abbott afirma que as perspectivas para o novo encontro
com a governadora não são boas. “Não temos muita expectativa. Tivemos uma
última reunião, na qual eles ficaram de documentar uma proposta. Mas não
mandaram nada pra gente”, afirma. O dirigente do Sindsaúde revela que a categoria está
decepcionada com o governo Fátima Bezerra, principalmente porque ela já foi
sindicalista e prometeu durante a campanha afinar o diálogo com o funcionalismo
público se fosse eleita governadora. “O governo está mal assessorado. Em menos de três
meses, tivemos o debate em torno das licenças-prêmio, que o governo impôs na
base do ‘se colar, colou’ e das requisições de pequeno valor (RPV) e
precatórios. O governo vem adotando práticas de governos anteriores, inclusive
praticando assédio na greve. Um governo que se diz popular e democrático jamais
diria isso”, critica Breno Abbott. No caso das licenças-prêmio, o sindicalista fez
menção a um decreto de janeiro de Fátima Bezerra que cortou a concessão do
direito (pagamento e gozo) até o fim de 2019. Após pressão de servidores, a
governadora decidiu revogar a medida.
Quanto às requisições de pequeno valor (RPV), Breno
Abbott lembrou que o governo estadual encaminhou para a Assembleia Legislativa
um projeto para reduzir o valor das RPVs de 60 para 10 salários mínimos. RPVs
são ordens de pagamento que o Estado emite em função de ações perdidas na
Justiça para cidadãos. Pelo projeto de Fátima, entrariam na categoria das RPVs
apenas ações de pagamento de até 10 salários mínimos. Acima deste valor, os
pagamentos entrariam na fila dos precatórios, que são creditados, muitas vezes,
em prazo muito superior a 90 dias. Novamente após pressão de servidores e da
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o governo potiguar decidiu retirar o
projeto da Assembleia.
Outro conflito de Fátima com os servidores, o maior
deles, diz respeito ao pagamento dos salários. Desde que assumiu, a governadora
tem priorizado as folhas vencidas em 2019, em detrimento das folhas herdadas do
governo Robinson. Além disso, a nova gestão decidiu pagar os salários de maneira
escalonada, quebrando a isonomia entre os servidores e suas respectivas faixas
salariais. Presidente do Sindicato dos Trabalhadores da
Administração Direta do Governo do Estado (Sinsp), Janeayre Souto questiona a
aplicação de recursos do Estado nesse início de governo Fátima. “Com os
royalties, o governo disse que pagaria os atrasados. Já entrou janeiro e
fevereiro e vai entrar março, e o governo não sinaliza. Estamos muito
preocupados”, lamentou, na saída de uma reunião recente com o secretário de Planejamento
e Finanças, Aldemir Freire. Parte do funcionalismo ainda não recebeu o 13°
salário de 2017 e a folha de novembro de 2018. Além disso, estão integralmente
abertas as folhas de dezembro e 13° do ano passado. A dívida totaliza quase R$
1 bilhão. A gestão estadual diz que aguarda a obtenção de receitas
extraordinárias para quitar o passivo, sobretudo a antecipação de royalties da
produção mineral. Para Vilma Batista, presidente do Sindicato dos
Agentes Penitenciários (Sindasp), essa mesma reunião com o secretário foi
“frustrante”. “Não temos perspectiva real. Queremos que o governo diga quando
vai iniciar o pagamento. É um absurdo. O governo só apresenta sacrifício e
retirada de direitos. Enquanto isso, os poderes fazem de conta que estão no
‘país das maravilhas’”, criticou, em referência à aprovação, na Assembleia
Legislativa, de concessão de férias e 13° salário para os deputados estaduais,
inclusive com efeito retroativo a 2015.