Se o "caba" é negro, pobre
e nordestino, condená-lo ao anonimato é mais regra do que exceção. A não ser
que esse mesmo "caba, negro, pobre, nordestino e arteiro" saia mundo
afora vestido de cangaceiro, carregando uma sanfona para poetizar o Nordeste e
exaltar o Sertão. Um contrassenso para quem sonhava em “(...) dormir ao
som do chocalho e acordar com a passarada”, porque, apesar de viajante,
Luiz Gonzaga se envaidecia em viver sua terra e encantar sua gente.“Ele foi um
político na música”, brada a cantora e compositora Cristina Amaral. “Falar de
Luiz Gonzaga é falar de uma nação, de um povo, da sua cultura”, reforça o poeta
e cantador pernambucano Maciel Melo.
Há exatamente três décadas, o maior símbolo da música pernambucana e nordestina
fez sua passagem. Na contramão do luto, esta sexta-feira de celebração. Porque
à perda do Rei do Baião - e do xote, e do xaxado, e do arrasta-pé e dos tempos
do 'dois pra lá, dois pra cá' - ficaram referências do filho de "Seu
Januário" e de "Mãe Santana", nascido numa sexta-feira de
dezembro de 1912 em Exu, Sertão do Araripe. "Ele carregava na indumentária toda a geografia de uma nação. Quando a
gente olhava ele no palco, o que se via era um vaqueiro, um cangaceiro, um
violeiro, um trabalhador", complementa Maciel. "Deixou todo um legado
que a gente continua, com uma história que começou com ele", enaltece
Cristina.
Com composições que permeavam a aridez do Sertão do Nordeste, o velho
"Lua" contou a história da "Asa Branca" (1947) ao
lado de Humberto Teixeira (1915-1979), seu parceiro também em "Assum
Preto" e "Quem Nem Jiló", entre outras do cancioneiro
da dupla. Já ao lado de Zé Dantas (1921-1962), a mesma Asa Branca voltou
e celebrou os "rios correndo, as cachoeira zoando, a terra moiada e o
mato verde", que riqueza! "Gonzaga conseguiu se perpetuar na memória do povo pela verdade que
carregava em sua música, pela capacidade de traduzir o comportamento do homem
nordestino", acrescenta Marcelo Melo, do Quinteto Violado, ao falar sobre
a perenidade da obra de Seu Luiz, que, fisicamente, está registrada em letras
de protestos e alegrias em pelo menos algumas centenas de discos gravados e
outras tantas de canções ressoadas mundo afora. O fato é que, com Seu Luiz, o Fole Roncou, se dançou Forró
de Cabo a Rabo, o mandacaru fulorô na seca, Samarica Parteira teve
sua história contada e o alfabeto da música popular brasileira teve que
aprender um outro ABC, o do nosso Sertão.
Para reviver Gonzaga no Recife,
Com a presença do Quinteto Violado, da cantora Bia Marinho e dos sanfoneiros Joquinha Gonzaga e Terezinha do Acordeon, o Cais do Sertão (Bairro do Recife) homenageia Gonzaga com shows levados pelo forró. E sob a regência do maestro Fernando Furtado, uma centena de crianças embala o clássico "Asa Branca", encerrando a programação. O agito começa às 18 h, com acesso gratuito.
Com a presença do Quinteto Violado, da cantora Bia Marinho e dos sanfoneiros Joquinha Gonzaga e Terezinha do Acordeon, o Cais do Sertão (Bairro do Recife) homenageia Gonzaga com shows levados pelo forró. E sob a regência do maestro Fernando Furtado, uma centena de crianças embala o clássico "Asa Branca", encerrando a programação. O agito começa às 18 h, com acesso gratuito.
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