GOVERNADORES AFIRMARAM AGENDAS COM PARCEIROS INTERNACIONAIS PARA TRAZER INVESTIMENTOS PARA O NORDESTE. FOTO: CEARÁ EM OFF
Com despesas pagas pelos cofres estaduais, os
governadores nordestinos Renan Filho (Alagoas), Camilo Santana (Ceará), João
Azevêdo(Paraíba),PauloCâmara (Pernambuco), Wellington
Dias (Piauí), Fátima Bezerra (Rio Grande do Norte) e Belivaldo Chagas (Sergipe)
estão em mais uma viagem internacional pelo inconstitucional Consórcio
Nordeste. Visitarão França, Itália e Alemanha. Fátima, governadora do RN, fez questão de levar
alguns “companheiros” como Fernando Mineiro e Jean Paul Prates para
participarem da viagem internacional. A aventura começou na última sexta-feira,
15, quando todos embarcaram com destino à Paris. Os gestores passaram o final
de semana em Paris para cumprir “agenda oficial” que, por sinal, começou apenas
nesta segunda-feira, 18. A viagem termina no dia 22, em Berlim. A governadora
do RN ainda segue para a China após o período na Europa, retornando ao estado
apenas no dia 4 de dezembro.
FERNANDO MINEIRO E JEAN PAUL PRATES ACOMPANHARAM FÁTIMA NA VIAGEM À EUROPA. FOTO: ELISA ELSIE/GOVERNO DO RN
A agenda dos gestores cita encontros com executivos
do grupo francês Engie, que atua na geração de energia e com noruegueses
da Golar, empresa de transporte de gás natural. Também estão previstas
“negociações” com a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) e com o
Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida). E deve acontecer uma
reunião na Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco).
Segundo os organizadores, a agenda dos governadores incluiria ainda encontros
com ministros franceses, italianos e alemães. No retorno, caberá ao governador Rui
Costa (PT-BA), presidente do Consórcio Nordeste, prestar contas e
apresentar resultados da viagem, anunciando quais foram os “investimentos”
obtidos estado por estado “nas áreas de sustentabilidade, infraestrutura,
turismo, saúde, segurança pública, saneamento e energias limpas.” Dos nove governadores, apenas o governador
maranhense Flávio Dino não viajou. O Maranhão foi representando pelo
vice-governador Carlos Brandão.
Consórcio dos Afogados
Apesar de afirmarem em discurso que o Consórcio
Nordeste teria o caráter meramente administrativo, na prática os governadores
nordestinos estão quase amotinados contra a Federação. Simbolicamente, o
Consorcio Nordeste promove teses separatistas; aumenta isolamento político;
goteja, embala e promove teses contra governo Bolsonaro; e ainda rasga a 2º
Capítulo da Constituição. Os governadores nordestinos agem como se o Nordeste
fosse país separado do Brasil, oferecendo negócios em setores de
responsabilidade constitucional exclusiva da União, como mineração e
energia. No recente encontro em Natal, RN, os governadores
nordestinos manifestaram “profunda preocupação” com o que chamaram “sinais da
drástica redução da presença da Petrobras na região”. E também abriram fogo
contra a Reforma Tributária, “preocupados com a simplificação na tributação
sobre o consumo”.
Responsáveis pelas mais altas taxas de ICMS do
país, os governadores nordestinos estão mesmo preocupados com a queda da
arrecadação pela redução de preços diretos ao consumidor. Por exemplo, na
reunião de Natal, também ficaram “preocupados” com a decisão do Governo Federal
em relação ao etanol dos EUA. Também estão preocupados com o custeio das redes
estaduais de ensino, ampliadas com recursos federais, mas sem o plano da
sustentabilidade. Mesmo problema que acontece na rede hospitalar pública. Não bastasse a fúria arrecadadora, que impede o
desenvolvimento econômico, desestimulando o investimento privado, além da seca
e da pobreza extrema, o Nordeste ainda enfrenta a ausência de regras de
preenchimento de cargos públicos nos governos estaduais. A velha cultura do
empreguismo voltou a crescer nas máquinas públicas da região.
O estado do Ceará está com 23 mil funcionários
terceirizados, quantidade maior que a população da maioria dos municípios
cearenses; Pernambuco, com 12 mil terceirizados; na Bahia estão alocados 16 mil
terceirizados só na secretaria da Educação. Outro ponto é o endividamento crescente em dólar.
Agravando o quadro, todos os governadores nordestinos estão pendurados em
denúncias de corrupção. A situação crítica dos governos nordestinos não
circula, porque os governadores nordestinos estão blindados e sem oposição nos
estados. São recordistas quando o assunto é gasto com publicidade e imagem
institucional, verba que reveste a blindagem. Apenas o governo do Ceará, por
exemplo, gastou nos últimos 10 anos cerca de 750 milhões reais em publicidade.
E foram raposas políticas na regra “dividir para
governar”, mantendo o controle dos partidos políticos estaduais através
de laranjas que escalam como presidentes.
Sem transparência — A essa presunçosa aventura
política, baseada apenas na derrota de Jair Bolsonaro na região, soma-se outras
questões que ferem princípios constitucionais, como o da Transparência. Exemplo disso está na “primeira compra coletiva do
Consórcio Nordeste”. Os governadores nordestinos compraram via o governo
da Bahia cerca de 118 milhões em medicamentos para abastecer farmácias da rede
pública de hospitais, ambulatórios e postos de saúde. A compra foi feita pelo
governo baiano, mas o resultado do certame foi anunciado no último dia, 6,
durante reunião do colegiado do Consórcio Nordeste no Campo das Princesas,
palácio-sede do governo de Pernambuco.
Segundo o governador Paulo Câmara (PSB-PE),
a economia da compra dos remédios foi da ordem de 48 milhões de reais, porque
caso a licitação não fosse conjunta, os preços poderiam chegar a R$ 166 milhões
para cada governo estadual. Paulo Câmara fez o anúncio sem explicar como a
licitação aconteceu. Perguntas como quais remédios foram comprados, quanto cada
estado gastou e quando chegam os medicamentos, não foram nem feitas e nem
respondidas. Também não se sabe as bases da licitação, ninguém viu o edital e
não se sabe qual empresa ganhou a licitação. Sobram ainda questionamentos. Segundo blogueiros
pernambucanos, dos 37 medicamentos em falta no estado, apenas um estaria na
lista de fármacos licitados em conjunto pelos nove estados do Nordeste. O Consórcio Nordeste anuncia que lançará outros
editais para compras coletivas em dezembro.
Com informações: Ceará em off/via FM